sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

AE-CE: Balanço eleitoral

Tempos Vermelhos

Os tempos estão cada vez mais difíceis para quem defende uma concepção de esquerda autêntica e acredita na via democrática para transformar o mundo. Mas haverá caminho sem percalços para quem não pretende abrir mão da ideologia?

Por Rafael Tomyama*

Deodato e Guilherme: candidatos do PT-CE apoiados pela Articulação de Esquerda

Nesta campanha eleitoral em 2014 deve-se admitir que a imprensa – o verdadeiro partido da direita golpista – conseguiu em parte realizar um feito que não havia obtido nas outras três eleições gerais anteriores, em que as candidaturas do PT venceram a disputa pela presidência da República: colar no partido uma imagem caricata e estereotipada de sua atuação. O objetivo é o de promover a remoção da agremiação do cenário político.

O movimento de conteúdo conservador e reacionário, que pretende enxovalhar não só o PT, mas a política e os políticos como um todo, foi bem sucedido até certo ponto, embora o partido ainda tenha conseguido manter muito espaço nos parlamentos e nos governos que conquistou, seja encabeçando chapas, seja em coalizões que integra. As principais vitórias, no entanto, se deram onde o partido não se descaracterizou, ou seja, não perdeu a sua essência militante e o povão pode identificá-lo com o desejo de mais mudanças e mais avanços.

Ceará

Inversamente no caso do Ceará, isso pode explicar porque a campanha de Camilo Santana, candidato do PT ao governo, teve um desempenho eleitoral abaixo do esperado e dificuldade para vencer a acirrada disputa contra o adversário Eunício Oliveira (PMDB). A articulação da candidatura petista foi resultante de uma manobra imposta ao partido pelos irmãos Ciro, Cid e Ivo Gomes, abrigados na legenda PROS. A campanha, subalterna aos desígnios do comando oligárquico, trocou o símbolo da estrela e a cor vermelha tradicionais do PT, pela apresentação insípida e bajulatória das realizações governistas na TV.

Para a composição da bancada parlamentar do PT, tal arranjo teve ainda um saldo mais nefasto, levando a representação do partido na Assembleia Legislativa a cair de cinco para dois deputados estaduais. O resultado, em que não houve nenhuma recondução, sendo todos os eleitos do PT novatos na Casa, implica também num "recado" crítico do eleitorado à atuação subordinada da agremiação no parlamento estadual.

Considerando ainda que os votos do PT ajudaram a coligação a eleger outros 22 aliados, sendo destes 12 do PROS, e embora a bancada federal tenha se mantido com quatro deputados petistas, é o pior resultado partidário das últimas eleições no Ceará e demonstra como a força do poder econômico interfere decisivamente no desenlace do processo político, apoiando projetos conservadores de direita com os quais se identifica.

Vermelhos

Ainda que os candidatos apoiados pela Articulação de Esquerda no Ceará não tenham conseguido se eleger, a tendência cumpriu um importante papel ao realizar campanhas limpas, conscientizadoras e de demarcação programática, em meio a um cenário de diluição organizativa e ataques anti-petistas.

Deodato Ramalho, nosso candidato a deputado federal, iniciou a campanha com a expectativa de colaborar com o desempenho da legenda e ampliar o alcance de seus posicionamentos críticos e combativos. Entendemos que os objetivos políticos foram plenamente alcançados.

Ele alcançou os 18,5 mil votos em todo estado, enquanto o aliado Guilherme Sampaio, da Casa Vermelha, candidato a deputado estadual, atingiu 11,5 mil votos. A votação de ambos os vereadores, como não poderia deixar de ser, se deu principalmente em Fortaleza.

A votação do companheiro Deodato, devido à sua história de apoio às lutas populares e sindicais em diversos municípios, teve boa penetração no interior do estado e também pode apontar bases para uma construção com maior organicidade em alguns lugares.

A campanha serviu para evidenciar mais nossas figuras públicas, bem como fortalecer a profícua parceria com o grupo local Casa Vermelha, para continuidade do apoio às lutas sociais por reformas políticas e estruturais e a conformação do bloco de oposição em Fortaleza e pela candidatura própria do PT na capital em 2016.


*Rafael Tomyama coordenou a campanha de Deodato Ramalho a deputado federal.


Publicado no jornal Página13 nº 138 dez 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário