Por Rafael Tomyama*
Os candidatos Camilo Santana (PT) e Eunício Olivera (PMDB) disputam o segundo turno da eleição para governador do Ceará. Uma diferença de apenas 60 mil votos separou os dois concorrentes, de um universo de mais de seis milhões de eleitores que foram às urnas no primeiro turno. O petista obteve 47,81% dos votos válidos e o peemedebista 46,41%.
Os números revelam que Camilo obteve melhores resultados no interior, especialmente no Cariri (região Sul do estado) e que Eunício venceu na região metropolitana de Fortaleza.
O desempenho não tão expressivo do candidato governista, na avaliação de seus correligionários, não é atribuído à desastrosa incompetência marqueteira de preferir atrelar inteiramente a imagem do candidato à do governador Cid Gomes (PROS), ao invés de privilegiar a associação com Dilma e Lula (PT). A candidata Dilma teve 68,3% dos votos no Ceará.
Em contraste, o seu adversário direto, Eunício, espertamente cola sua imagem à liderança petista, repetindo na propaganda a fala de Lula em agradecimento ao “companheiro Eunício”.
A questão que precede está na origem da candidatura situacionista, quando a maioria dirigente no PT-CE aceitou trocar a vaga ao Senado pela de governador e colocou a sigla refém dos Gomes. Com a aliança com uma oligarquia dominante, Camilo não poderia ter desempenhado outro papel a não ser o de evitar a politização do debate, mantendo afastados os vínculos com os movimentos sociais e limitando-se a apresentar um verdadeiro “diário oficial” das realizações do governo.
Mas, para turma governista a responsabilidade da derrota na capital, onde o candidato do PMDB venceu em quase todos os bairros, não decorre inclusive dos desgastes da gestão governista, especialmente nas áreas da saúde e segurança pública, mas é atribuída ao pouco empenho de Luizianne e de sua corrente na campanha. E também à acusação de que teria colaborado com o adversário. A ex-prefeita petista elegeu-se deputada federal com mais de 130 mil votos.
Não deixa de ser irônico, que a campanha de Camilo tenha sido inteiramente bancada pelos Gomes e passado todo tempo contraditoriamente desconstruindo o PT e seus símbolos – estrela vermelha, etc – e ainda venha culpar o partido insubordinado pelo desempenho abaixo do esperado nas urnas.
Desafetos
Além de Luizianne, outros declarados opositores dos Gomes obtiveram um resultado expressivo nas urnas. Capitão Wagner, por exemplo, com forte apoio da corporação de Policiais Militares, foi eleito o deputado federal mais votado no estado, alcançando quase 200 mil votos.
O maior feito da oposição, no entanto, até o momento foi a eleição de Tasso Jeireissati (PSDB) ao Senado com mais de dois milhões de votos. A volta do líder tucano ao Congresso Nacional traz outros impactos no cenário local.
Eleito pela coligação encabeçada por Eunício, Tasso comanda a campanha da direita pró-Aécio no segundo turno no Ceará. E, evidentemente, tensiona a posição do aliado peemedebista no sentido da acomodação em relação à campanha de Dilma.
Proporcionais
A pior notícia para o Partido dos Trabalhadores foi a composição da Assembleia Legislativa. Resultante principalmente da tática eleitoral de subserviência aos Gomes, a coligação do PT com o PROS e mais uma dezena de legendas sob seu controle, levou a bancada petista a cair de cinco para dois parlamentares.
Considerando ainda que os votos do PT ajudaram a coligação a eleger outros 22 aliados, sendo destes 12 do PROS, e embora a bancada federal tenha se mantido com quatro deputados petistas, é o pior resultado partidário das últimas eleições no Ceará.
Para deputado estadual, a legenda do PT/CE conquistou em torno de 77 mil votos, mesmo com, em tese, o candidato ao cargo de governador filiado ao partido.
Ainda que com um desempenho superior aos demais partidos neste quesito (PROS: 40 mil; PMDB: 35 mil; PDT: 32 mil; PSDB: 22 mil, etc.) trata-se de um resultado aquém da votação em 2010, quando o partido obteve mais de 72 mil votos na legenda.
O resultado é proporcionalmente inferior àquele ano, considerando o crescimento da ordem de 3% do eleitorado. Além disso, o desempenho da legenda costuma ser bem melhor quando a cabeça de chapa é do mesmo partido. Em 2010, o PT apoiou a reeleição de Cid Gomes, então filiado ao PSB.
Ressalte-se ainda que na soma dos votos nominais (dados aos candidatos) o PT obteve agora pouco menos de 300 mil votos, atropelado pelo PROS Cidista, que chegou a mais de 878 mil votos.
Vermelhos
Ainda que os candidatos apoiados pela Articulação de Esquerda no Ceará não tenham conseguido se eleger, a tendência cumpriu um importante papel ao realizar campanhas limpas, conscientizadoras e de demarcação programática, em meio a um cenário de diluição organizativa e ataques antipetistas.
Deodato Ramalho, nosso candidato a deputado federal alcançou 18,5 mil votos em todo estado, enquanto o aliado Guilherme Sampaio, da Casa Vermelha, candidato a deputado estadual, atingiu 11,5 mil votos. A votação de ambos os vereadores, como não poderia deixar de ser, se deu principalmente em Fortaleza.
O saldo político consiste na profícua parceria com o grupo local Casa Vermelha. A votação do companheiro Deodato, devido à sua história de apoio às lutas populares e sindicais em diversos municípios, teve boa penetração no interior do estado e também pode apontar bases para uma construção com maior organicidade em alguns lugares.
“13 lá e 13 cá”
Ainda que tardiamente, parece que finalmente o núcleo do comando Cidista teve que se render à realidade dos fatos e abrir espaço para o vermelho do PT de Dilma e Lula nas peças de campanha de seu candidato para tentar evitar uma possível derrota total no segundo turno.
Dilma e Camilo, tendo como aliados Eunício e Gomes, respectivamente, vencerão as eleições? E como governarão?
Politizar, polarizar e mobilizar o povo são as tarefas do PT nos próximos dias para vencer o embate e para governar melhor, com compromissos com os “de baixo”. À luta, sempre!
*Rafael Tomyama é dirigente da AE-CE
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