segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Balanço: As razões do Nordeste


Por Múcio Magalhães e Antonio Pessoa (Zico)*

A votação de Dilma no segundo turno no Nordeste surpreendeu muitos e motivou as já conhecidas manifestações preconceituosas e racistas dos inconformados com o resultado eleitoral. Seu percentual nos nove estados da região variou dos 62,12% aos 78,76%. Para quem não acompanha o que vem ocorrendo na região e dá crédito a avaliações simplificadoras que terminam por cultivar o preconceito em maior ou menor grau, credita todo esse resultado ao programa Bolsa Família. É natural essa interpretação para quem sempre enxergou o Nordeste como um peso, região do atraso político e econômico e não deu a devida importância ao esforço dos governos Lula e Dilma para reduzir as desigualdades regionais.

Os fatos demonstram que os investimentos na região proporcionaram ao Nordeste apresentar um desenvolvimento econômico acelerado, bem acima da média das demais regiões do País. No início foram as políticas sociais de transferência de renda e o aumento real do salário mínimo que contribuíram para o crescimento do PIB per capita do Nordeste e da renda do trabalhador local. Posteriormente, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vieram os grandes investimentos em infraestrutura, como a duplicação das BRs, especialmente da BR 101, a Transnordestina, as obras da transposição do Rio São Francisco, os portos, aeroportos, obras de saneamento e outras, que abriram caminho para um processo de industrialização nunca visto na região, desconcentrando a produção industrial brasileira das regiões Sul e Sudeste.

Investimentos privados e das empresas de capital misto, incentivados por políticas do governo federal, despontam nas áreas da petroquímica, da siderurgia, da indústria naval, da indústria automobilística, eólica, ferrovias, refinarias, indústria farmoquímica, de papel e celulose, etc. É uma indústria de alto valor agregado, que por necessitar de trabalhadores com melhor grau de qualificação, oferece melhores salários, o que tem estimulado a formação de uma jovem classe trabalhadora que passou a ter acesso a bens e serviços que seus pais nunca tiveram.

No campo, as políticas de financiamento à agricultura familiar, as medidas de estimulo ao desenvolvimento de práticas de convivência com a seca, a implantação de mais de um milhão de cisternas no semiárido, aliadas às políticas de proteção social, elevaram a qualidade de vida do sertanejo a uma condição nunca antes vista.

A renda e a riqueza ainda é hiperconcentrada na região, mas o crescimento econômico, aliado as políticas sociais nas áreas de educação com a ampliação de vagas no ensino técnico e superior, os investimentos em saúde com novos hospitais, mais médicos, entre outros, têm elevado a autoestima da população, que é beneficiária direta das políticas dos governos do PT ou não.

No geral, o povo do Nordeste correspondeu aos avanços sociais e econômicos com uma votação consagradora em Dilma, confirmando que acima de tudo quer manter as conquistas propiciadas pelos governos Lula e Dilma e que não confia nos tucanos como alternativa de governo para manter os avanços atuais e garantir novas conquistas.

O aspecto que chama a atenção é a diminuição do número de deputados federais eleitos pelo PT na região, 18 ao todo. Estados como Pernambuco e Rio Grande do Norte não elegeram nenhum; no Ceará, onde foi eleito um governador do PT, foram eleitos quatro deputados; ficando a Bahia com o melhor resultado, com a eleição do governador do PT e de oito deputados federais. Também diminuiu o número de deputados estaduais. Parece estar na votação proporcional o reflexo da intensa campanha de desgaste movida contra o PT desde 2005, somada as insuficiências do governo na disputa de hegemonia da sociedade. Não pode ser considerado normal um resultado onde elegemos a presidenta da república e a bancada diminui.

As eleições deste ano deixaram lições e sinais das mudanças que precisam ocorrer no PT e no governo para que seja mantido o apoio que o Nordeste vem dando em todas as disputas presidenciais as candidaturas do PT. É hora de ouvir com atenção o recado das massas nas ruas e nas urnas que ao mesmo tempo em que reelegeram Dilma também estão chamando o PT para a luta social, para o enfrentamento da direita que cresceu na eleição.


* Múcio Magalhães e Antonio Pessoa (Zico) são dirigentes do PT Pernambuco

Artigo originalmente publicado na revista Esquerda Petista

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