segunda-feira, 21 de julho de 2014

Prós e contras da tática do improviso


Por Rafael Tomyama*

Os últimos momentos antes das convenções partidárias trouxeram uma reviravolta no cenário político estadual, quase tão tensa quanto as eliminatórias da Copa do Mundo. O lançamento de uma candidatura petista ao governo do Ceará conseguiu desagradar a gregos e troianos. Será que ela vai conseguir forjar a unidade necessária para vencer a disputa e governar?

Camilo Santana, filiado ao PT, é o candidato a governador da coligação de mais de vinte partidos, inclusive o PROS, legenda em que se encontra abrigado o governador Cid e seus irmãos Ciro e Ivo Gomes, além de dezenas de parlamentares e prefeitos por todo o estado do Ceará.

Apesar do aparente potencial eleitoral dessa coligação, a escolha de Camilo revela a fragilidade dos nomes colocados pelo próprio PROS para o enfrentamento da postulação do atual senador e ex-aliado Eunício Oliveira, do PMDB, dentre outros candidatos.

Demonstra também, mais uma vez, o traço autoritário da oligarquia no poder: A escolha final cabe exclusivamente ao cacique político dono da situação, cujo dedo aponta ora para um, ora pra outro, sem nenhuma discussão ou ideologia, visando atender exclusivamente seus próprios interesses e de sua parentada.

Camilo é do PT Cidista. Ou seja, da turma que beija mão do governador. Sua candidatura é contestada no PT, porque, mesmo sendo petista, não foi escolhido num processo democrático de discussão e votação interna.

Trombadas

No debate interno no PT, a pretensão da maioria mirou na candidatura de Guimarães ao senado e recebeu, em troca de sua dedicada subserviência, a rasteira do governador manobrista.

Além disso, apesar da maioria no diretório petista afirmar que a prioridade é fortalecer reeleição da Dilma, o PT Ceará não fez o menor esforço para manter o PMDB na coligação com o PROS, delegando a responsabilidade ao PT Nacional. Isso empurrou o PMDB cearense para compor com o PSDB e PR, que são oposição no estado, criando mais um problema para a campanha nacional, dentre outros que se verificam nos palanques pelo Brasil afora.

Camilo também tem que se equilibrar nas contradições da ampla coligação ao seu redor, envolvendo agremiações e figuras públicas de oposição ao governo ou entre si. Tal situação ficou evidente, por exemplo, na primeira atividade de campanha em Fortaleza: a presença do prefeito Roberto Claudio (PROS) causou desconforto na militância petista da capital.

Surfistas e corruptos

Os Ferreira Gomes são costumazes frequentadores da relação de amor e ódio petista. Enquanto trocavam de partido como de camisa - passaram pelo PMDB, PSDB, PPS, PSB e agora PROS - depois de mais de uma década coligado com o PT em Sobral, na região norte do Ceará, a aliança se deu na eleição estadual em 2006.

Naquela época, a onda vermelha conduziria Lula ao segundo mandato, e na eleição anterior, o candidato José Airton do PT quase havia derrotado os tucanos. Os Gomes então consideraram estratégica a aliança com a estrela e contaram com o apoio da então prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT), que indicou o vice-governador petista da aliança com Cid na cabeça da chapa.

Depois das eleições subsequentes de apoios mútuos, a relação se desfez na última eleição municipal em 2012, em que, sob o olhar beneplácito da justiça eleitoral, a oligarquia comprou votos, intimidou e roubou descaradamente a eleição do PT em Fortaleza, partido que Ciro Gomes diz ser "o mais corrupto da história".

Rubro

Camilo obteve mais de 131 mil votos na eleição passada, sendo o deputado estadual do PT mais votado. Ele é servidor público e de origem da região sul do estado, tendo concorrido a prefeito de Barbalha, no Cariri cearense. Filho de Eudoro Santana, o pai compunha a "ala histórica" do PSB, que se opôs ao ingresso dos Gomes para parasitar a sigla, no final da década de 1990. Com a entrada deles, acompanhou uma das levas de insatisfeitos e veio para o PT junto com Camilo. Na campanha eleitoral passada, Eudoro se desfiliou novamente, desta vez para apoiar e compor o secretariado de Roberto Claudio, o prefeito marionete dos Gomes.

A candidatura de Camilo surgiu de improviso e desagradou um conjunto de interesses em jogo, mas, ao fim e ao cabo, ele é quem foi "nomeado" para representar a chapa do PT. Venceu a tática da falta de tática. Mesmo mantendo uma avaliação crítica das contradições do processo e do resultado, não faria sentido sabotar uma frente de resistência ao retrocesso oposicionista, aliado da mídia empresarial golpista e bancado pelo agronegócio e pelo grande capital transnacional.

Além de avermelhar a campanha - na placa do palanque da convenção conjunta com o PROS, o número 13 do candidato ao lado do seu nome, estava inexplicavelmente amarelo! - Camilo tem os desafios de unir a militância com esse objetivo e apresentar um programa em sintonia com as lutas sociais e com os avanços nas reformas estruturais que o Brasil precisa. E, principalmente, no quadro estadual, superar dialeticamente as práticas retrógradas e patrimonialistas de governos e governantes.

Não vai ser nada fácil.


*Rafael Tomyama é membro do Diretório Estadual do PT-CE.



Entre tapas e beijos

Quem demonstra não ter gostado nem um pouco da manobra do governador Cid Gomes para ungir Camilo (PT) candidato a governador:

Guimarães

O irmão do Genoíno, atual deputado federal pelo PT-CE, forçou a mão mas teve que desistir do plano de candidatura ao senado, dizendo estar realizando um "sacrifício em nome do bem maior" do PT. A sua tendência (CNB) é majoritária e, além de responsável por empurrar o PMDB para o palanque do Aécio (PSDB), é culpada pelo insucesso da tática de submissão incondicional aos Gomes. Mas houve candidato proporcional até respirando aliviado no final.

Luizianne

A "Lôra", tida como nome forte para disputa com Eunício (PMDB), teve seu direito de concorrer numa prévia como candidata a governadora alijado pelos Gomes e seus aliados internos no PT. Sem conseguir capitanear o processo político, sua corrente, a DS, desta vez engrossa o coro do descontentamento com a indicação do candidato petista que não foi escolhido pelo PT.

Inácio

O atual senador do PCdoB queria apoio para reeleição de seu mandato, mas acabou barrado, primeiro pela pretensão de Guimarães (PT) e por fim por definição do governador Cid, que deixou o comunista de fora da chapa majoritária e indicou o atual deputado estadual Mauro Filho (PROS) para a disputa da vaga no senado. O partido divulgou nota em que informa que o parlamentar desistiu de concorrer.

PROS

As "bases" da legenda do governador dá sinais que está bastante incomodada em ter que votar no 13 para o governo. De certa forma, Cid teve que tomar uma decisão incômoda, diante: do rompimento com Eunício, da dúvida sobre a competitividade de seus designados e da insistência do PT cearense em Guimarães no senado. Depois de semanas de espera, a escolha não recaiu sobre nenhum dos postulantes cotados e o desânimo se abateu sobre Lêonidas, Zezinho e Domingos Filho, mesmo que recebam "compensações". Os demais: Isolda é a candidata a vice e Mauro Filho é candidato ao senado. A baixa motivação nas "bases" do PROS pode criar uma dificuldade adicional, numa campanha que já promete ser duríssima.


Vote na esquerda petista

A tendência petista Articulação de Esquerda no Ceará, apresenta a candidatura de Deodato Ramalho a deputado federal pelo PT, com o número 1321.

Mesmo diante do cenário político conturbado e da esdrúxula lei eleitoral brasileira, a candidatura de Deodato visa contribuir com a qualificação da democracia e do parlamento e com as reformas estruturais que o país necessita.

Deodato é advogado e vereador do PT em Fortaleza. Ele foi bancário e gestor na prefeitura da capital. Sua história de vida está vinculada às lutas por cidadania, direitos humanos e meio ambiente.

Uma das dobradas é com Guilherme Sampaio, do grupo Casa Vermelha, candidato a deputado estadual do PT Ceará. Guilherme é educador e exerce o terceiro mandato consecutivo como vereador do PT em Fortaleza, tendo desenvolvido sua atuação e projetos com foco principal nas áreas de educação e cultura. Ele é candidato pela primeira vez ao parlamento estadual com o número 13234.


Publicado pela Articulação de Esquerda no jornal Página 13 julho de 2014


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