quinta-feira, 5 de julho de 2012

Fortaleza: Eleição, espinhos e pétalas


Por Fernando Cartaxo de Arruda

Agora com as cartas na mesa, podemos vislumbrar nas eleições municipais que se aproximam um raro momento de redefinições dos rumos políticos do Ceará. Embora sejam 10 candidatos a concorrerem a prefeitura, o jogo real do embate político terá como foco a força política dos Ferreira Gomes, a capacidade de maior autonomia do PT e eventual ascensão de novo polo de poder.

Alguém imaginar nesse cenário uma disputa cordial é o mesmo de querer agarrar com voracidade a delicadeza de uma flor sem se ferir. A disputa eleitoral será marcada por mais espinhos do que pétalas, pois o que está em jogo é o domínio do poder. A verve dos Ferreira Gomes já foi ensaiada e os lampejos de fogo se acenderam antes da partida começar, em torpedos cibernéticos e frases de alfinetes. Querer ver estrelas no céu ensolarado da cidade de Fortaleza só é possível mergulhando na profundeza da inocência das cacimbas, ainda sob o risco de não desvendá-las.

Vai ser guerra mesmo. Não adianta o alarido do bom mocismo, nem o jeitinho brasileiro de fazer de conta que a realidade não existe. Os abraços, as juras de amor e fidelidade vão ser soterradas com o raiar das turbinas eletrônicas e parafernálias eleitorais, nas telas da televisão, nas vias virtuais e no submundo da informação e contrainformação.

É verdade que nada garante de antemão que a revelação das urnas vá se traduzir na polarização entre o candidato do PT Elmano Freitas e o candidato do governador, Roberto Cláudio. Mas a estratégia eleitoral levará ao confronto entre essas duas candidaturas, como forma inevitável de se almejar o poder.

Daí ser inusitada a atitude de três deputados estaduais do PT aceitarem a submissão do silêncio obsequioso, conforme se divulga e às beiras do carnaval eleitoral. Não fossem parlamentares, seria uma ação individual e pontual. No caso, representa uma forma de afrontar a realidade e atropelar a coerência política que o momento exige. É lamentável, em todos os sentidos, em especial de esvaziar o elemento essencial do político, que é a fala e o posicionamento claro diante das escolhas políticas. Ou alguém vai acreditar que terão coragem de desafiar o governador, sendo fiadores de sua administração e devedores de sua confiança.

O argumento de que a aliança entre PT e PSB poderá ser reatada no segundo turno é pura tergiversação. O fato concreto é que se for verdadeira a informação, preferiram a omissão política em um momento eleitoral definidor do futuro do PT no Ceará. Ou até acenem como um grupo dissidente, como é o caso de Sérgio Novaes dentro do PSB, que deverá apoiar a candidatura Elmano Freitas. Só os fatos vindouros nos revelará a essência dessa postura indecifrável e incongruente.

A consequência direta é o desgaste da candidatura do PT e do PSB, abrindo um flanco para a exploração política das demais candidaturas. O fenômeno das surpresas eleitorais no Ceará não é fruto de nossa imaginação fértil, mas reflexo do cansaço diante de uma realidade política que transparece que os interesses a moverem os políticos são pessoais e privados, sem conexão com as necessidades coletivas ou sustentados por valores éticos. É também certo que quem mais perde é o PT.

As candidaturas alternativas que devem ganhar musculatura com esse imbróglio político é a do advogado Renato Roseno e do deputado Heitor Férrer. O Roseno por ser um jovem promissor na cena política do Ceará e manter uma linha de integridade e coerência; o Heitor por ter se mantido como a única voz na Assembleia que atuou com liberdade crítica e oposição responsável.

O Elmano passou por uma prova de fogo, fazendo a persuasão da direção nacional do PT e arrancando o compromisso das lideranças nacionais apoiarem o seu nome e participarem da campanha eleitoral. O Lula estará em seu palanque, mas estranhamente corre o perigo de três parlamentares petistas cearenses não estarem ou se sentirem constrangidos de estar.

A sucessão de Fortaleza do jeito como caminha ainda promete muitas surpresas. De qualquer forma, por mais surrealista que sejam os acontecimentos, será um processo político saudável como as tragédias que tem a força de purificar.


Publicado no Blog da Dilma

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