Por Rafael Tomyama*
No início de junho acontece a Semana do Meio Ambiente. O dia 5 de junho marca a data da primeira Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre o desenvolvimento sustentável, ocorrida em Estocolmo em 1972. Mas, para além do blá-blá-blá do bom-mocismo ingênuo (ou nem tanto), tipo “salvem os bichanos”, o que as questões (ou os dilemas) ambientais têm a ver com a luta do povo trabalhador?
Tudo ou nada
A princípio, a pauta ambiental parece pouco afeita às reivindicações sindicais, por exemplo. Estas, em geral especialmente presas ao economicismo de resultados.
Principalmente porque aparentemente “o problema não é com a gente”, já que, numa perspectiva classista, as mais altas dosagens poluentes advém da incansável sanha patronal por lucros.
Acontece que na Natureza, tudo é relacionado e interdependente. O ambiente desmatado, exaurido, poluído que decorre de uma forma de produção linear (e do consumo de seus produtos), que abocanha matérias-primas numa ponta e excreta resíduos na outra, não permite pensar num futuro viável, não só para a humanidade, mas para qualquer forma de vida planetária.
A mais-valia apropriada pelos patrões, inclui o tempo expropriado dos trabalhadores. O tempo do lazer, do descanso, do passeio, da contemplação paisagística, etc.
O lucro é privado, mas o prejuízo ambiental é socializado. Por isso já se fala numa espécie de “racismo ambiental”, já que as populações pobres e majoritariamente indígenas, negras, quilombolas, componentes e/ou descendentes de comunidades tradicionais, são as que mais sofrem as consequências dessa forma (implícita) de exploração.
Sob a égide do capitalismo, a burguesia talvez espere encontrar uma solução “mágica” para equacionar a contradição entre excassez dos meios da produção e a necessidade da permanente expansão dos mercados (de consumo). Ou a dialética da evolução das forças produtivas, especialmente tecnológicas, e o estrangulamentdo das relações de produção.
Enquanto isso, se desenha um cenário do cataclisma: cidades inviáveis, falta de saneamento, doenças, alimentos contaminados, aquecimento global, mudanças climáticas, etc. que prenunciam a demanda por outro planeta para habitar. Urgente.
Alternativas
Uma resposta possível do capital está numa redenção “científica”. Como os agrotóxicos representaram uma inexistente “solução para a fome no mundo” na década de 1950, os transgênicos são apresentados agora com a mesma promessa. Parece um tanto incerta e arriscada.
Há os empresários “esclarecidos” ou “eco-capitalistas”. Para a “economia verde” o discurso do apocalipse ambiental iminente vira oportunidade de econegócios. Sempre vão haver as intenções paliativas e o marketing verde pra aumentar as “verdinhas” – em dólar.
Existem ainda os que se alinham em modelos teóricos que variam do neoliberalismo ao desenvolvimentismo econômico. Todos igualmente incapazes de superar o modo de produção (e consumo) atual e de propor um projeto qualitativamente superior e sustentável, que leve em consideração com democracia, planificação econômica e justiça social.
O fato é que o prognóstico de que não há futuro sob a égide capitalista, vem agora embalado num “viés”, digamos, ecológico.
Ecossocialismo
No plano prático, a mecanização, concentração fundiária e das culturas no campo e a atração populacional nas cidades, de pequenas vilas às megalópoles mundiais, torna o planejamento urbano peça-chave das políticas macro-nacionais de desenvolvimento, visando atender às demandas por bens e serviços ambientais.
A luta ambiental deve nos lembrar – à classe trabalhadora – que derrotar o império do dinheiro e construir uma sociabilidade ecossocialista, fundada na partilha, na igualdade, na fraternidade e na comunhão, é mais do que uma necessidade econômica ou imperativo ético, é uma estratégia de sobrevivência das espécies.
Eis uma tarefa que somente o motor revolucionário de uma classe para si pode desempenhar. Não será uma concessão da burguesia. É preciso aprofundar cada vez mais as lutas sociais e populares para arrancar as conquistas das pautas sócio-ambientais.
*Rafael Tomyama é membro do Coletivo Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT
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