terça-feira, 10 de junho de 2014

Texto Base da IX Conferência Nacional da Juventude da Articulação de Esquerda


A Juventude na luta por um Brasil democrático, popular e socialista

1. Poderíamos começar este texto falando de imediato do mês de junho de 2013, seus impactos, desdobramentos etc. Afinal, este tem sido um ponto de partida comum em grande parte das análises recentes acerca do assunto.

2. No entanto, este texto tem o objetivo de subsidiar os debates para a IX Conferência Nacional da Juventude da Articulação de Esquerda – tendência interna do PT -, algo que impõe o desafio de produzirmos uma análise ampla e apurada de diversos pontos da história, de tal maneira que o junho de 2013, com toda a sua importância, não pode ser o ponto de partida e tampouco o de chegada. Aliás, sem uma compreensão estratégica, junho de 2013 torna-se grandemente incompreensível e seus ensinamentos são desperdiçados. Por isto, neste texto faremos o debate mais geral, sobre a presença e a participação dos jovens nas ruas, nas urnas e na luta por um Brasil democrático, popular e socialista.

3. Em nossa história política de golpes, conciliações e transições controladas pelas elites, nunca vivenciamos revoluções populares vitoriosas. Para ser preciso, nos últimos 100 anos convivemos com um conflito de dois projetos de desenvolvimento, ambos capitalistas. Um deles conservador, outro democrático. Esta disputa se aproveitou do fato de que em boa parte deste período tivemos uma esquerda linha auxiliar de uma disputa entre frações de classe da burguesia.

4. A novidade nesta história começa aparecer na década de 1980 com a reorganização da esquerda, a construção do novo sindicalismo, os movimentos de massas e a criação do Partido dos Trabalhadores pelas bases. Uma classe trabalhadora que cresceu e se fortaleceu a partir das contradições do desenvolvimento capitalista criou as condições para mudar a natureza do conflito entre as políticas de desenvolvimento, fazendo pela primeira vez a esquerda hegemonizar o bloco dos que defendem o desenvolvimento democrático.

5. Este processo só foi possível através de uma estratégia que combinou luta de ideias, organização, luta institucional e luta de massas.

A juventude nas ruas e nas urnas

6. A combinação da disputa das urnas e das ruas é algo recente na vida política do Brasil. Durante a maior parte do século XX, parcela significativa do povo esteve impedida de participar da vida política do país por meio do voto e, em muitos momentos, também de sair às ruas para se manifestar. Isto atingiu com maior intensidade a juventude. Foi preciso ir às ruas para conquistar o direito de ir às urnas.

7. Foi saindo às ruas também que, mais recentemente, a juventude foi protagonista em mobilizações de massas que combateram e derrubaram governos neoliberais ao longo da década de noventa. E foi indo às urnas em 2002, junto à maioria da população, que parcela significativa da juventude brasileira ajudou a eleger Lula o primeiro operário Presidente do país.

8. Todavia, as duas últimas décadas foram marcadas por uma contradição: por um lado vitórias eleitorais da esquerda, por outro lado descenso do movimento de massas. O espólio conservador e autoritário de 21 anos de Ditadura Militar, a transição conservadora à democracia, a implosão da União Soviética e a hegemonia do neoliberalismo, entre outros fatores, destacam-se como razões desta situação.

9. Estas circunstâncias tiveram impacto direto na juventude, pois foram estes os sujeitos mais afetados pelo desemprego, a redução dos salários, o encarecimento do custo de vida, o sucateamento dos serviços públicos em geral, a redução das vagas nas universidades, a ausência de políticas públicas específicas, a ação repressora do Estado, etc.

10. Em outra perspectiva, a juventude também foi fortemente afetada pela influência cultural das elites, que mantiveram intactos e até mesmo reforçaram, nos últimos anos, seus aparatos educacionais, culturais, comunicacionais e religiosos conservadores.

11. A chegada do PT ao governo federal, a partir de 1º de janeiro de 2013, nos marcos da contradição já apontada entre ruas e urnas, cria as condições para inverter este cenário. Mesmo com um programa rebaixado e com diversas amarras que impedem a realização das reformas estruturais (bandeiras históricas do partido), os governos encabeçados pelo PT conseguiram enfrentar o problema do desemprego estrutural, garantir o aumento real dos salários, investir em programas sociais de transferência de renda e combate à miséria, aumentar os investimentos nas áreas de saúde e educação; bem como manter uma política internacional mais independente dos interesses dos Estados Unidos e que valorizasse a relação com a África e a América Latina.

12. Neste novo momento, as condições de vida do conjunto da classe trabalhadora brasileira sofreram significativas melhorias. Mas estas mudanças não vieram acompanhadas de uma transformação cultural ou de valores na sociedade. Estas melhorias não se deram numa arena de disputa ideológica da classe trabalhadora.

13. A consequência é que parcela significativa da população, em especial a fração da classe trabalhadora que ascendeu economicamente ao consumo, não identificam que essa ascensão se deu por ações do governo, e sim creditam unicamente em seus esforços individuais. Pior do que isto: a ascensão através do consumo reforça em algumas camadas os aspectos reacionários do consumismo; e facilita, nos chamados setores médios tradicionais, uma reação extremamente violenta.

14. Na juventude isto se agrava, tendo em vista que a grande maioria não viveu os trágicos anos de governos neoliberais. Para esta parcela o PT é o único parâmetro, e com o seu rebaixamento político, tem crescido o sentimento de que também seja mais um partido tradicional.

15. No entanto, a decorrência programática das demandas feitas por estes sujeitos é contrário do programa que prevaleceu na década passada: não é o fechamento das universidades, mas a ampliação das vagas; não é o retorno das demissões em massa, mas a qualidade dos postos de trabalho criados, com mais aumento dos salários e a redução da jornada de trabalho; não é a mercantilização dos direitos, mas serviços públicos de melhor qualidade, a redução do custo de vida e a diminuição da violência.

16. O debate sobre a violência deve ser tratado no detalhe. Por um lado a violência da vida cotidiana. Por outro lado, a violência do crime organizado e da segurança pública militarizada. Tudo isso permeado pela cultura da violência estimulada pelos monopólios da mídia e por uma situação de tensão social que as instituições nem canalizam, nem solucionam.

17. É nesta arena mais ampla, portanto, que a disputa da juventude está ocorrendo. E ela fez de Junho de 2013 um momento de catarse, marcado pela disputa ideológica, onde amplos setores da direita (principalmente através dos meios de comunicação) identificaram nas ruas uma oportunidade de se fortalecer para disputar as urnas.

A juventude na luta pelo socialismo

18. A juventude não é uma classe social: os jovens da burguesia, da classe trabalhadora, dos setores médios tradicionais pensam e agem diferentemente. Por isto, a relação entre juventude e rebeldia tem sentidos e significados distintos, a depender da origem de classe dos jovens e também a depender do contexto geral da luta de classes.

19. Portanto, esta relação entre juventude e rebeldia não é automática ou mecânica. Os jovens não são revolucionários por natureza, como diriam alguns. A existência de uma forte juventude nazista das décadas de 1930 e 1940 na Alemanha; a juventude integralista no Brasil neste mesmo período, bem como o crescente apoio da juventude aos casos de “justiçamento” comprovam isso. Porém, é inegável o papel de destaque que os jovens desempenharam ao longo da história das lutas democráticas em geral e da luta pelo socialismo.

20. No nosso continente, destaca-se a participação dos jovens na resistência às ditaduras militares e na luta pelo socialismo, sendo Cuba o caso mais emblemático – país onde os principais líderes da revolução, ao ingressarem na guerrilha, eram jovens.

21. Dessa forma, temos consciência de que queremos ser herdeiros de uma longa tradição de combatentes, que somos continuadores da luta pela revolução socialista e que temos uma enorme responsabilidade histórica.

22. Assim, reafirmamos nosso compromisso enquanto Juventude da Articulação de Esquerda em fazer avançar o nível de organização da juventude da classe trabalhadora e da juventude, em lutar contra a opressão geracional de forma a colaborar na luta por uma sociedade sem opressão nem exploração, em impulsionar a luta pelas reformas estruturais democrático-populares de forma articulada com a luta pelo socialismo.

A Reeleição de Dilma Rousseff e a juventude

23. Um dos grandes desafios da esquerda brasileira, em especial, para o Partido dos Trabalhadores é saber aliar a luta das ruas com a das urnas. Somos críticos a postura do PT das últimas duas décadas, que tem gradativamente rompido os vínculos estratégicos, táticos e organizativos entre a luta das urnas e a luta das ruas. Unir essas duas esferas, articulando-as nos marcos de uma estratégia democrática, popular e socialista, é um dos desafios petistas em 2014 e nos próximos anos.

24. Desde 1989 o resultado das eleições presidenciais tem sido o termômetro da luta de classes no Brasil. A chegada do PT à Presidência não significou a chegada ao poder, pois este ainda se concentra nas mãos do grande capital internacional e nacional, do latifúndio, da burocracia estatal e militar, dos parlamentos, do judiciário e, é claro, do oligopólio da comunicação. No entanto, a eleição do primeiro operário filiado a um partido de esquerda para a Presidência da República é um símbolo forte do poder que a classe trabalhadora tende a ter na medida em que aumenta o seu grau de organização e politização. De forma semelhante, a eleição de uma mulher e de uma combatente contra a ditadura militar é um símbolo da potência democrática que decorre do fortalecimento da classe trabalhadora.

25. Em 2014 temos o desafio de reeleger, não somente a Dilma, mas o projeto de poder, democrático e popular, da classe trabalhadora. O que significa dizer que precisamos pautar, desde as eleições, um governo superior, que ouse impulsionar as reformas estruturais e intensificar a disputa de hegemonia, num viés democrático, popular e socialista, na sociedade.

26. Temos entendido por disputa de hegemonia o processo de convencimento das maiorias acerca dos projetos de sociedade em disputa. O capitalismo, nesse terreno, tem sido um campeão inconteste. Citamos um de seus melhores símbolos: nas campanhas eleitorais assistimos a democracia ser engolida pelo dinheiro.

27. Um desafio da esquerda, nesse cenário, é disputar também o método das campanhas, de modo a fazê-las se pautar mais pela nitidez da disputa entre os projetos antagônicos de sociedade, do que pelos arranjos publicitários milionários, que ao tentar esconder, denunciam a sua ideologia. Fica, no entanto, a grande questão a ser por nós respondida: como exercer contra-hegemonia nos processos eleitorais? Ou, dito de outra forma, como fazer com que as eleições cumpram também um papel de convencimento, junto à classe trabalhadora, acerca dos valores socialistas?

28. A constituinte exclusiva pela reforma política pode ser uma chave-mestra nesse cenário. Este não é um tema menor no cenário eleitoral. Discutir e pressionar pela reforma política, também durante as eleições, é uma maneira de trazer à cena os verdadeiros problemas da política e apontar as verdadeiras soluções, abrindo os caminhos para as demais mudanças que o Brasil precisa.

29. Precisamos de um governo ainda mais comprometido com a vida da juventude. Ao lado do debate acerca das políticas específicas para a juventude, queremos colocar na ordem do dia uma reforma da segurança pública que desmilitarize as polícias e supere a doutrina da segurança nacional, sendo necessário alertar que a legislação nela inspirada segue vigente. A segurança pública é um tema diretamente ligado à democracia. O extermínio da juventude negra das periferias é um tema político, impulsionado pelo paradigma da guerra às drogas, que na prática se traduz numa guerra racista e classista, do estado burguês contra a periferia. A luta pela legalização das drogas, bem como a legalização do aborto, são questões primordiais para um país como o nosso, que enterra mais de 60 jovens por dia.

30. Estes três temas – uma nova política de segurança pública, drogas e aborto como temas de saúde pública – fazem parte da agenda, digamos, “negativa”, ou seja, que remove obstáculos. Mas é preciso ir além e construir uma agenda positiva para a juventude, uma agenda de novos direitos e responsabilidades, que a incorpore como agente protagonista na construção de um Brasil democrático, popular e socialista. E aqui, mais uma vez, destaca-se a necessidade de ter um corte de classe: é a juventude trabalhadora e filha de trabalhadores que deve ser convocada para cumprir estas tarefas, no âmbito da cultura, da educação, da moradia, do turismo, dos esportes, da ciência e tecnologia, do trabalho, do transporte, do meio-ambiente, da defesa nacional e da integração latinoamericana.

31. As últimas pesquisas apontam que a maioria da população, em especial a juventude, quer mudanças, mas aponta também que é o PT e não a oposição, os capazes para liderar essas transformações. No entanto, para o nosso partido e nosso governo realizarem essas transformações será necessário mudar sua postura, apostando na política, polarizando com os projetos conservadores e defendendo a continuidade com mudanças.

A JPT que construímos

32. Muito daquilo que a JPT representa hoje para o partido dos trabalhadores e para a juventude brasileira decorre das nossas formulações e das disputas que travamos no âmbito do partido e na JPT.

33. Inicialmente, fomos aqueles que defenderam a necessidade da construção de uma organização de juventude no PT militante e de massas. A formulação que a Articulação de Esquerda apresentou para a militância partidária no inicio da década de 1990 foi pioneira na critica do modo utilitarista e instrumental que a cultura petista tratava a juventude. Representou os primeiros passos da disputa acerca da necessidade do partido organizar e elaborar uma política para a juventude.

34. Realizamos um intenso embate geracional no interior do partido durante a década de 1990. Contudo, o cenário era de descenso na capacidade de organização e mobilização da JPT, e por alguns anos, o então Setorial Nacional de Juventude ficou desarticulado.

35. Esta realidade sofreu uma mudança significativa a partir do Encontro Nacional da JPT - ENJPT de 2005, inaugurando uma gestão que representou um novo ciclo para a juventude petista. Essa gestão que durou de 2005 a 2008 marcou um período importante na formulação de uma política de juventude e de consolidação da JPT como instancia partidária e culminou com a construção do I Congresso da JPT.

36. De lá para cá, estivemos construindo e disputando em cada espaço os rumos da JPT. Mesmo com a dissidência na nossa tendência nas vésperas do II Congresso – dissidência que apresentou-se como portadora de uma nova política, mas que mostrou plenamente a que veio ao apoiar a candidatura majoritária no PED 2013--, garantimos nosso espaço na construção da entidade e mantemos firme com nossas formulações e proposições políticas.

37. Ainda que tivessem alguns avanços no debate de juventude no interior do PT, percebemos que nosso partido não entende adequadamente e não prioriza a construção da juventude e que há muito que se fazer para tornar a JPT uma verdadeira e ampla frente de juventude partidária.

A JPT que estamos e somos

38. Os avanços que tivemos no último período são resultados de uma disputa histórica de espaços da juventude na construção do partido e no governo. O principal deles foi a aprovação das cotas para jovens nas instancias partidárias, garantindo que 20% dos cargos sejam ocupados obrigatoriamente por jovens. Mas quando este avanço não é preenchido de conteúdo, torna-se apenas uma maneira de facilitar o acesso de burocratas jovens aos postos de direção.

39. Tivemos também saldos positivos no debate acerca das Políticas Públicas para a Juventude e ganhos importantes como a criação da Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal e mais recentemente com a aprovação do Estatuto da Juventude. É este tipo de avanço que dá materialidade de massa à nossa política. Mas, como já dissemos, estes avanços institucionais e materiais precisam ser combinados a mudanças políticas, culturais, ideológicas.

40. Por outro lado, neste ultimo período, cada vez mais se tornam visíveis as debilidades políticas e organizativas na Juventude do PT. Se por um lado aprovamos as cotas, por outro, este processo se deu sem a orientação devida por parte da direção nacional da JPT. Não foram poucos os locais em que jovens ingressaram nas chapas e nos cargos de direção apenas para cumprir uma regra. Este processo demonstrou a necessidade de fortalecer a rede da JPT e de organizá-la nos municípios.

41. Durante as mobilizações da juventude em junho de 2013 também ficou nítida a atual desarticulação do conjunto da JPT, a falta de orientação da direção nacional e a incapacidade de disputar a opinião política da juventude. Pouco conseguiu dialogar com aqueles milhares de jovens que estavam saindo ás ruas tendo inclusive dificuldades para emitir opinião política para dentro e fora do partido.

42. A JPT deveria pautar com maior atitude política as lutas da juventude no país. Ao contrário, assim como o partido, parece cada vez mais incapaz de realizar atividades de mobilização e de disputa de hegemonia. A crescente institucionalização, o refluxo do debate ideológico e a ausência de discurso e diálogo com os movimentos sociais, reforçam este distanciamento e cada vez mais temos perdido apoio nas novas gerações.

43. São por estas razões que estamos mediante um processo eleitoral onde um dos principais setores em disputa é a juventude, setor este em que o PT nos últimos anos tem perdido o apoio político e eleitoral. Este processo coloca a necessidade da JPT fortalecer o diálogo com as organizações juvenis e formular um programa de campanha de juventude que dialogue com os anseios por mudanças manifestadas pelas camadas jovens.

44. Como a maioria da juventude só conviveu com os nossos governos, uma campanha que aposte única e exclusivamente na comparação entre os nossos governos e o dos tucanos não será exitosa. Para ganhar o voto e o engajamento desta juventude é necessário apresentar mudanças, polarizar ideologicamente com o projeto conservador e dialogar com os sonhos e perspectivas para o futuro.

45. Para que tenhamos êxito nisto, a JPT precisa estar à esquerda do Partido. Pois um Partido onde a juventude está à direita da sua direção, evidentemente marcha para a direita.

46. Mesmo com os desafios colocados mediante um cenário de continuidade das lutas juvenis e a necessidade de preparação para uma difícil campanha eleitoral, foi decidido a não realização do III ConJPT, anteriormente previsto para este ano. O cancelamento do Congresso representa um agravante tanto político como para nossos problemas organizativos. Não são poucas as direções da JPT em que a maioria de seus dirigentes não é mais jovem ou não milita mais na juventude, o que tem gerado um esvaziamento das secretarias e direções municipais e estaduais.

47. A realização do Festival de Juventude do PT, em que pese o esforço, está longe de tapar os buracos da não realização do Congresso. Contudo, espera-se que este espaço seja capaz de cumprir o papel de mobilizar a militância para debater as propostas de campanhas de juventude nos estados e nacional assim como a inserção da JPT nas lutas sociais.

A JPT que Queremos

48. Uma das principais tarefas da Juventude Petista deve ser a de mudar o PT, ampliando sua presença nas lutas da juventude, com mobilização, formação política, debate ideológico e ação cultural.

49. A JPT é uma das juventudes partidárias que pode ter uma atuação nacional mais consolidada e diversificada. O número de petistas ou que se referenciam no PT nos diversos movimentos é enorme. É necessário a construção de canais de diálogo e construção comum nas lutas cotidianas para aproximá-los dos espaços do partido.

50. É central para o PT e a JPT dialogar com a jovem geração de lutadoras e lutadores sociais. Acompanhamos o surgimento cada vez maior de novas redes e formas de participação da juventude. No trabalho, nos estudos ou mesmo conectada ao mundo a partir da internet, nas redes sociais ou nas marchas e movimentos juvenis. É fundamental convencer essa juventude de que essa luta será mais eficaz quando canalizada ou aglutinada a outros setores na construção de um partido político.

51. A Juventude do PT deve estar inserida nas mais diversas frentes de juventude, organizadas nas escolas, nas universidades, nas fabricas e nos bairros e nos mais distintos setoriais de atuação e participação da juventude como coletivos de jovens feministas, de diversidade sexual, redes sociais, meio ambiente, cultural, estudantil, entre outros. Disputando esta juventude para as fileiras do partido e para defesa de um programa socialista.

52. Para isso é fundamental superar os limitas organizativos, cujo passo inicial é o fortalecimento das instâncias municipais da JPT e a concretização dos núcleos da JPT. Estes núcleos têm o objetivo de articular a ação direta, integração, formação política e trabalho de base visando integrar os movimentos sociais e as novas lutas, marchas e redes em que a juventude está atuando.

53. A nova organização da JPT, apontada pelo III Congresso do partido em 2007 e fortalecida pelo I Congresso da juventude petista em 2008 deve ser tirada do papel pelos próprios jovens do PT, com autonomia, que não deve ser compreendida como independência ou separação do partido, mas como condição indispensável para a Juventude do Partido dos Trabalhadores disporem de sua própria organização e capacidade de incidir nas pautas e lutas da juventude brasileira. Esta autonomia, falemos claro, significa ter uma juventude mais radical, mais mobilizada, mais à esquerda do que o próprio Partido.

54. A JPT que queremos é uma juventude socialista, revolucionaria inserida nos movimentos juvenis, com voz e vez na disputa dos rumos do PT. Derrotar o rebaixamento ideológico; enfrentar os ideais que visam transformar a disputa de direção da JPT nos moldes do PED, reduzindo espaços do debate político acentuando a concepção de filiado-eleitor em detrimento de uma participação militante; fortalecer os ideais de esquerda e ser a JPT que queremos, são quesitos centrais para aqueles e aquelas comprometidos com a construção e a disputa da JPT rumo ao III Congresso a ser realizado em 2015.

Juventude da Articulação de Esquerda: balanço, concepção e organização.

55. A ultima vez que a Juventude da AE realizou um balanço de sua atuação foi no final de 2011 e no meio de 2012, em decorrência da nossa VIII Conferência Nacional. Passamos naquele período por um momento de reorganização de nossa tendência e acabamos por incorporar um conjunto de avaliações que já haviam sido feitas em outras conferências. Transcrevemos aqui três trechos das nossas últimas Conferências.

Destacamos os seguintes desafios políticos e organizativos a enfrentar:

a. Investir na formação de quadros;
b. Organizar a intervenção de nossa militância nos movimentos sociais;
c. Fortalecer e organizar nossas instâncias (coordenações, conferências e coletivos de base);
d. Fortalecer a intervenção nacionalizada e articulada de nossa militância nos municípios;
e. Potencializar a comunicação interna;
f. Aprofundar nossa formulação estratégica sobre a transição da JPT;
g. Organizar a JAE segundo as necessidades de novo modelo que defendemos para a JPT;
h. Organizar uma frente institucional na CNJAE;
i. Conduzir a renovação geracional e a transição de quadros.

(...)

Em linhas gerais, podemos dizer que não estivemos à altura das tarefas que nos propomos a realizar. Nossa organização segue com fragilidade das instâncias; dificuldades em acompanhar e articular nossa intervenção a nível local; falta de repasses, informes e orientações entre os níveis municipais, estaduais e nacionais; dispersão e falta de diálogo de militantes da juventude da AE que atuam nos movimentos sociais; dificuldade em promover método mais coletivo de elaboração política; insuficiente apropriação de nossas formulações por parte da militância; e baixo grau de difusão de nossas opiniões para fora da corrente e do partido.

(...)

Obviamente, nossas dificuldades não decorrem apenas de nossas debilidades próprias. A situação atual da classe trabalhadora e seu nível de consciência, o refluxo das mobilizações de massas, a defensiva estratégica do movimento socialista, o rebaixamento programático e estratégico das organizações de esquerda, os problemas políticos e organizativos do próprio PT, entre outros fatores, impõem à Articulação de Esquerda e à sua juventude uma circunstância desfavorável para fortalecer nossa organização e ampliar nossa força social.

56. Para além do exposto, vale ressaltar que os problemas da JAE são em grande medida os mesmos problemas (organicidade e construção militante da tendência) da AE e que a Direção Nacional da tendência tem se empenhado em resolver. Nesse sentido, um conjunto de iniciativas tem sido construídas com o objetivo de aumentar nossa organização e nos colocar a um patamar de reflexão ideológica a altura do próximo período. A juventude da Articulação de Esquerda é peça essencial desse esforço.

57. Cabe ressaltar que de uma forma menos rápida do que queríamos e precisávamos tivemos avanços. A Coordenação Nacional da JAE - CNJAE embora nem sempre tenha tido quorum em suas reuniões foi uma das que mais funcionou nos últimos anos, conseguindo até mesmo realizar dois planejamentos nacionais e os debates se enraizaram em muitos Estados.

58. Algumas Coordenações Estaduis - CEJAEs também funcionaram. No Movimento estudantil Universitário conseguimos manter nosso tamanho, intensificar nossa formulação e dar solidez a nossa intervenção nacional que hoje agrega diversas entidades gerais e de base. Adentramos também o ME secundarista e conseguimos acumular reflexões sobre como organizar nossa ação em outros movimentos sociais.

59. O que avançamos só demonstra o óbvio: temos muito mais por fazer. A juventude da Articulação de Esquerda consegue hoje, por ter vida política em quase todas as principais cidades do país, boas reflexões acerca dos debates que envolvem a juventude. Porém, ainda guardamos distância de voltarmos a ser uma força dirigente nos movimentos de juventude Brasil afora.

60. Do ponto de vista da concepção a JAE é a organização da juventude da AE. É militante da JAE quem obedece aos critérios para ser militante da AE. Os militantes da JAE são petistas, constroem o PT, os movimentos sociais e lutam pelo socialismo. Funcionamos obedecendo a uma dinâmica de deliberação através das Coordenações Nacional, Estaduais e Municipais da JAE. Em alguns lugares possuímos também núcleos de base que organizam nossos militantes por local de estudo, trabalho e militância. Tais instâncias têm autonomia política e organizativa, desde que respeitem as deliberações de nossas instâncias gerais como a DNAE e as DEAEs.

61. Cabe a juventude da Articulação de Esquerda contribuir para organizar a juventude petista e a juventude dos movimentos sociais construindo um horizonte socialista. Não nos organizamos apenas para sermos organizados, e sim porque entendemos ser necessário dirigir a juventude da classe trabalhadora, e em ultima instância a classe como um todo, a luta por um mundo sem exploração e opressão. O PT ainda é referência para uma grande parcela dessa juventude que queremos disputar. Por isso a construção da JPT sempre foi estratégica para nós.

62. A organização da JAE precisa alcançar outros patamares. É meta da nova CNJAE estimular que  o máximo de CEJAEs funcionem. Também a mesma instância (CNJAE) deve ser enxugada, a fim de garantir funcionalidade.  No caso do ME é importante para que não sobrecarregue nossas instâncias que tenhamos um GT permanente que envolva os nossos principais dirigentes nacionais sem que necessariamente os mesmos precisem estar na CNJAE.

63. Precisamos ter vida para além do Movimento Estudantil. Para isso alguns requisitos são necessários. Um deles é a profissionalização de um militante que toque com exclusividade a Direção Nacional da JPT. Outro é construir um amplo e massivo mapeamento de nossa intervenção nos movimentos populares. E por último, pelo crescente número de militantes jovens da AE que adentram o mundo do trabalho e sindical devemos incorporar em todas as nossas instâncias essa temática.

64. A esse respeito, reafirmamos que nossa orientação para o conjunto da militância jovem é formar-se, política, cultural e profissionalmente, criando as condições para inserir-se na sociedade e na produção.

65. A juventude da AE carece urgentemente de uma política própria e massiva de formação. O modelo de jornadas nacionais enfrenta limites quanto a organização a JAE. Vários são os motivos que fazem o alcance de tais jornadas ser menor do que o necessário entre os Jovens. A CNJAE deverá ter um coletivo nacional de formação e organizará materiais didáticos e roteiros de espaços de formação para a JAE.

66. É urgente na Juventude da Articulação de Esquerda construirmos uma cultura de valorização das instâncias coletivas e deliberação comprometida. Nosso principal desafio é construir coletivamente todas as nossas decisões e transformar todas em ação prática. A cultura da execução seletiva das deliberações coletivas é desestimulante e acaba com o sentido da democracia interna.

Nenhum comentário:

Postar um comentário