A propósito do livro de Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros
Por Angela Mendes de Almeida*
O homem incapaz de matar cachorros
A Editora Boitempo teve a feliz idéia de lançar, no fim de 2013, o livro do escritor cubano Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros, publicado primeiro na Espanha, em 2009, e só depois em Cuba. O livro é apaixonante, desses que se lê de um só fôlego. Talvez o seu maior mérito seja o de popularizar a história, já escrita de mil e uma maneiras e ângulos, da vida de Trotsky no exílio e de seu assassinato no México. No romance, o leitor pode privilegiar uma entre as três trajetórias ali narradas. A do escritor cubano insatisfeito com sua vida profissional e narrador das outras duas histórias, Iván Cárdenas Maturell, sofrendo as vicissitudes da pobreza material e intelectual cubana sob o regime de partido único e as peripécias de sua família no país, marcado pelo embargo norte-americano e pela dependência, depois pelo fim da ajuda soviética. Pode também se envolver na trágica história da resistência obstinada de Trotsky, sua família e seus seguidores, perseguidos passo a passo pela trama dos agentes secretos soviéticos. Mas pode também ficar magnetizado pela trajetória do assassino, Jaime Ramón Mercader, militante comunista catalão, e de seus companheiros na “missão especial” de liquidar Trotsky naquele ano de 1940: o judeu russo Kotov, na verdade, Nahum Eitingon, e a mãe do assassino, Caridad del Rio Mercader, todos agentes do NKVD (Comissariado do Povo para Assuntos Internos), a polícia política soviética.
É essa trajetória que provoca mais impressões contraditórias, emoções facciosas já submersas que brotam de repente, e também curiosidade, já que muitas das questões relativas às ações dos serviços secretos soviéticos só puderam vir à luz depois do esfacelamento da União Soviética.
Leia a resenha completa publicada no Correio da Cidadania
*Angela Mendes de Almeida é historiadora e coordenadora do site Observatório das Violências Policiais
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