domingo, 27 de outubro de 2013

Editorial do jornal Página 13 de novembro


Em recente entrevista ao jornal espanhol El País, o ex-presidente Lula disse que o PT precisa de “renovação”. Curiosamente, diferente do que fez nas eleições internas ocorridas desde 2001, no PED 2013 Lula engajou-se profundamente no apoio à candidatura de Rui Falcão, usando sua influência para viabilizar o apoio não apenas da tendência “Construindo um novo Brasil”, mas também de tendências como “Luta e Massas”, “Novos Rumos”, “Movimento PT” e outras menos conhecidas.

Lula fez o mesmo movimento em benefício de Emídio de Souza, ex-prefeito da cidade de Osasco (SP) e candidato à presidência do Partido no estado de São Paulo. Neste caso, o leque de aliados é ainda mais amplo, incluindo setores expressivos da “Mensagem ao Partido”, tendência que em âmbito nacional faz um discurso crítico que, pelo visto, alguns não consideram igualmente válido para o estado com o maior número de filiados em todo o país. Aliás, não é válido igualmente em estados como Espírito Santo, Paraíba e Pernambuco, onde expressivos setores da Mensagem optam pelas posições mais conservadoras no debate interno.

Sempre pode haver quem considere a candidatura de Rui uma “renovação”. A palavra, aliás, pode significar “renovar a fachada”.

E, independentemente de seus méritos ou deméritos pessoais, Rui representa o continuísmo e, no máximo, uma renovação conservadora. Também por isto, lutamos para levar a disputa da presidência para o segundo turno; e para eleger um Diretório Nacional onde nenhuma chapa tenha, isoladamente, maioria absoluta.

O plano do grupo atualmente majoritário é não apenas ganhar, mas ganhar por ampla margem. É isso que está por trás da operação que levou centenas de milhares de filiados a serem habilitados a votar.

Supondo que levem o plano até o fim, através de um boa operação de “mobilidade urbana”, o número total de votantes chegará perto dos 806 mil habilitados a votar e o resultado poderá ser um Diretório Nacional e uma executiva nacional onde a esquerda petista estará, na melhor das hipóteses, subrepresentada. Se este resultado fosse produto do debate livre e democrático, não haveria do que reclamar. Mas, de forma similar ao que criticamos nas eleições ditas burguesas, no PED há distorções, que começam na influência do poder econômico (utilizado para quitar contribuições financeiras de filiados recentes ou antigos) e terminam no fato de que expressiva parcela dos votantes no dia 10 de novembro não terá sido informada adequadamente acerca das alternativas em disputa.

Há 806 mil aptos a votar. Destes, quase 300 mil possuem endereços físicos desconhecidos pelo Partido, que também desconhece o endereço eletrônico de outros 744 mil. Além disso, até o momento não passam de 30 mil os que participaram, presencialmente ou virtualmente, de debates em âmbito nacional. E se depender de setores da atual direção partidária, mesmo os que têm endereço conhecido não receberão correspondência partidária contendo as posições de todas as chapas e candidaturas.

Para agravar, Rui Falcão, candidato do grupo que almeja a maioria absoluta, não tem demonstrado muita disposição para o debate: segundo ele, o PED seria momento de “acentuar nossas convergências”. Ele diz também que por “vocação pessoal” e também por sua “condição de presidente”, teria como obrigação apostar na “unidade do Partido”.

É uma quase-teoria muito polêmica, digamos assim. Para começo de conversa, ele é presidente interino, desde a renúncia do presidente eleito José Eduardo Dutra. Mas também é candidato. E se como presidente precisa construir a unidade, como candidato ele precisa dizer o que pensa acerca dos dilemas presentes e futuros do Partido. Há um tema, especialmente, sobre o qual vem emitindo opiniões contraditórias. Rui afirma concordar com os que defendemos um segundo mandato Dilma superior ao primeiro e também diz defender a centralidade das reformas estruturais. Ao mesmo tempo, afirma não existir correlação de forças para uma política de alianças mais avançada do que a atual. Evidentemente, a conta não fecha, e seria muito útil para o PT que Rui Falcão explicasse como superar esta contradição entre fins e meios.


Página 13

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