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| Por que não seria legítima uma candidatura do PT? |
Em menos de um mês, trocaram o PSB pela recém-criada legenda do PROS - Partido Republicano da Ordem Social - com o compromisso de continuarem na base de apoio do governo Dilma e de estarem envolvidos na aliança para reelegê-la em 2014.
Teria sido decisiva para esta manobra a ruptura do PSB por conta da provável candidatura de Eduardo Campos à presidência e a "afronta" dos supostos convites para seus adversários Luizianne (PT) e Heitor Férrer (PDT) serem candidatos ao governo do Ceará.
O grupo dos Gomes se mantém forte em torno da perspectiva do poder no estado, com dezenas de parlamentares e prefeitos, além do controle do governo estadual, e aliados espalhados por outras legendas.
Embora tenham vestido uma camisa (ou grife) com marca bem menos valorizada, a sétima nova roupa - considerando sua origem na antiga ARENA, passando pelo PDS, PMDB, PSDB, PPS e PSB - é confortável para quem só almeja a pouca consistência ideológica e o controle partidário sem maiores questionamentos internos.
Por ser um partido novo, o PROS tem as vantagens de estar submetido ao pleno domínio da oligarquia, já que não há figuras de expressão pública que pudessem lhe fazer sombra e ainda permite, pela jurisprudência atual dos tribunais, a preservar os mandatos de quem veio de outros partidos.
Mas diz-se também que o PROS é uma legenda criada por evangélicos, para atender seus objetivos eleitorais próprios e de perfil marcadamente conservador, moralista e até retrógrado.
Aliança
Como isso pode influir no cenário em 2014? O grupo dirigido pelos irmãos Cid e Ciro Gomes quer transparecer que a mudança é um mero detalhe e que tudo se mantém como antes.
Em que pese o desnudamento simbólico da perda do referencial de esquerda, o que já se verifica em suas práticas de construção fisiológica e de gestão, focadas no assistencialismo e na deslegitimação dos movimentos sociais, a verdade é que diminui sua margem de manobra, na medida em que cresce a reprovação social à sua política e se configuram alternativas a seu projeto.
Neste sentido, a principal questão é o crescimento da oposição e a divisão da atual base de apoio com a possível candidatura do senador Eunício Oliveira (PMDB) ao governo estadual no ano que vem.
Eunício, além de empresário com penetração em vários tipos de negócios e relações na imprensa, dirige a sinuosa pressão nacional do partido na base da presidenta Dilma.
A questão passa a ser a seguinte: se é aceitável a existência de mais de um candidato da base, por que não seria possível a candidatura própria do PT ao governo do Ceará?
A chapa Um Novo Tempo, composta pela Articulação de Esquerda no Ceará coloca em discussão a tese de que, embora não seja descartada a hipótese de uma nova aliança eleitoral com os neo "republicanos da ordem social" para atender à uma necessidade da tática eleitoral nacional no ano que vem, este alinhamento não tem que ser automático, não pode deixar de ter um escopo programático e pode vir a se dar em torno de um candidato ou uma candidata do PT.
Assim, em nossa visão, ordenando a linha política, é apropriado que o caráter de um partido que tem um projeto ideológico de sociedade de longo prazo, não esteja submetido aos desígnios de um grupo que tem apenas ambições pessoais imediatas de perpetuação em esferas poder.
O perfil subalterno ou altivo do PT do Ceará no processo eleitoral no ano que vem, no entanto, será definido agora em novembro no PED.
Esta definição está no plano local e igualmente passa pelo plano nacional. Pois o desafio é aprofundar as reformas estruturais de um segundo governo Dilma e retomar a trajetória de combatividade do partido associada às lutas populares.
Cabe à militância do PT refletir e decidir.
*Rafael Tomyama é dirigente da Articulação de Esquerda
Publicado no jornal Página 13 de setembro de 2013
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