terça-feira, 2 de setembro de 2014

Saiu o Página 13 de Setembro de 2014


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Ao longo dos últimos meses, os editoriais de Página 13 chamaram por diversas vezes a atenção de nossos leitores para três variáveis que incidem fortemente nas eleições presidenciais de 2014.

O aprofundamento da crise internacional e, por decorrência, a maior pressão das potências imperialistas sobre a América Latina e o Brasil. Os acontecimentos na Palestina, na Ucrânia e na Argentina, bem como as decisões da mais recente reunião dos Brics, só confirmam a intensidade da crise.

O acirramento da disputa entre as duas vias de desenvolvimento do Brasil, com o grande empresariado e parcela dos “setores médios”, a oposição de direita e o oligopólio da mídia deixando claro sua aversão radical a toda e qualquer medida vinculada a soberania nacional, a integração latino-americana e caribenha, a ampliação das liberdades democráticas, ao bem estar social e a igualdade. Esta segunda variável teve uma de suas expressões mais caricatas na famosa “análise” divulgada pelo Banco Santander. Mais relevante, entretanto,é a combinação de três atitudes, por parte do grande capital: a “greve de investimentos”,a “greve de contribuições” e a “aposta na inflação”.

A ampliação (relativamente às eleições de 2010) da parcela da população e do eleitorado oriundo da classe trabalhadora, que mantém reservas ou até mesmo desconfiança frente ao petismo, frente ao lulismo e frente a candidatura Dilma presidenta.

Destaque-se, neste particular, a existência de um grande contingente de jovens e mulheres que tende a votar branco, nulo ou não sabe em quem votar; e o desempenho de nossas candidaturas estaduais e proporcionais,especialmente na região sudeste do país e nas grandes cidades.

A verdade é que, depois de quase 12 anos de presidência petista, houve mudanças importantes no país e por isto mesmo parcelas crescentes da população estão “insatisfeitas”, cada qual a seu modo.

De um lado, o grande empresariado e os “setores médios tradicionais” (assalariados de alta renda, assim como setores da pequena burguesia) estão insatisfeitos com as mudanças ocorridas, querem evitar seu aprofundamento e querem recuperar o espaço perdido.

De outro lado, amplos setores da população trabalhadora e parcelas dos “setores médios” estão também insatisfeitos, não com o sentido das mudanças, mas sim com a timidez das mudanças realizadas e querem ganhar mais e mais rápido.

A oposição de direita conhece o desejo popular por mais mudanças e sabe que só ganhará as eleições presidenciais se conseguir aparecer, para a maioria do eleitorado, como a portadora de mudanças. Acontece que existe uma contradição antagônica entre a mudança desejada pelo povo e a mudança desejada pela oposição de direita.

As mudanças desejadas pelo povo, nós traduzimos em mais Estado, mais desenvolvimento, mais políticas públicas, mais emprego,mais salário, mais democracia.

Já a mudança desejada pela oposição de direita implica em desemprego, redução de salários, menos direitos, menos políticas sociais e democracia: é uma mudança para pior.

Por isto, a oposição de direita não pode assumir abertamente seu programa, não pode dizer que tipo de mudança deseja para o país. Dizer que vão gerar desemprego, reduzir salários e investimentos sociais seria a derrota antecipada.

Sem poder falar do futuro que pretendem construir e sem poder falar do seu próprio passado – quando implementaram no Brasil o programa neoliberal – o que resta para a oposição de direita é criticar “tudo isto que está aí”, combinando a denúncia de problemas (reais ou não), a manipulação midiática e a sabotagem ativa, para criar um ambiente de crise, deterioração e caos.

Por isto o oligopólio da mídia anda tão crítico quanto à realidade brasileira, para reforçar o ambiente negativo do qual se nutrem as candidaturas da oposição de direita.

Mas até 13 de agosto, as pesquisas mostravam que as candidaturas presidenciais da oposição não estavam conseguindo converter em voto válido este sentimento oposicionista presente em parcelas importantes do eleitorado.

Pois bem: para a oposição de direita,a trágica morte de Eduardo Campos foi a oportunidade para tentar resolver esta aparente contradição.

Não está dado que consigam isto, mas devemos reconhecer que as condições objetivas e subjetivas para isto existem. E está claro que existe uma decisão neste sentido, por parte do estado-maior da direita,que é o oligopólio da mídia.

A candidatura Marina combina várias características úteis para a oposição de direita. Primeiro, sua conversão ao neoliberalismo e à política externa subalterna.

Segundo, seu ódio visceral ao petismo, ao lulismo e a Dilma. Terceiro, uma (falsa) imagem de sintonia com “o novo”, com as aspirações populares por uma política diferente.

Quarto, uma capacidade de disputar o voto evangélico. Quinto, o recall das eleições de 2010. E, finalmente, a ilusão de que ela expressaria uma terceira via (ou uma síntese) entre PT e PSDB.

Para alguns setores do grande empresariado,estas características positivas não a convertem em “presidente ideal”, motivo pelo qual esperam apenas que ela ajude na ida de Aécio ao segundo turno e o apoie neste momento.

Para outros, as debilidades da candidatura Aécio e as afinidades eletivas entre o pensamento de Marina e o pensamento neoliberal (vide declarações de Pérsio Arida e Eduardo Gianetti) justificariam uma aposta total em Marina.

Para ambos setores, entretanto, a tragédia de Campos e uma possível candidatura Marina é vista como muito útil na batalha contra o PT e Dilma. Na avaliação destas hienas, Marina seria capaz de fazer aquilo que Campos não estava conseguindo. É por isto que muitas declarações de pêsames vindas da direita e da mídia foram acompanhadas de explícita comemoração.

Por tudo isto, espera-se que não haja frente a Marina as ilusões que muitos setores tinham frente a Campos, ilusões que transparecem explicitamente em várias mensagens de condolências vindas de setores da esquerda partidária e social.

Agora que Marina é candidata presidencial,crescem as possibilidades de segundo turno; bem como crescem as possibilidades de Aécio não estar no segundo turno. Neste cenário, torna-se ainda mais atual algo quejá dissemos e reafirmamos várias vezes, nos últimos anos: o Partido dos Trabalhadores eu conjunto da esquerda política e social brasileira precisam dar um salto na sua capacidade organizativa, política, teórica, cultural e estratégica.

As eleições de 2014 serão não apenas as mais duras, mas também as mais caras da história recente: as três principais candidaturas falam de gastos que, somados, atingem 916 milhões de reais. Ao mesmo tempo,o grande capital está reduzindo ao máximo suas contribuições para as campanhas eleitorais, em especial as contribuições para as candidaturas do PT.

O grande capital não é “ingrato” nem“desinformado”, apenas sabe que certas intenções que manifestamos, certas opções que fizemos e os êxitos que acumulamos, são incompatíveis com o padrão de acumulação hegemônico no grande empresariado brasileiro. Dizendo de outra maneira, o atual padrão de acumulação do grande capital necessita da perversa combinação de desemprego e salários baixos, com preços e juros altos.

Para ganhar as eleições, precisamos demarcar claramente com a oposição de direita, apontar o que eles fizeram quando foram governo nacional e onde são governo nos estados e municípios, contrapondo ao que nós fizemos e principalmente deixando claro o que faremos no segundo mandato Dilma Rousseff.

Esta ênfase no futuro, embora tenha sido oficialmente aceita, ainda não se traduziu adequadamente nas diretrizes programáticas,nos materiais de campanha, nem mesmo nos principais pronunciamentos da presidenta Dilma Rousseff.

Por isto, insistimos:

*é preciso reconhecer e incorporar nas campanhas o papel positivo e indispensável dos movimentos e das lutas sociais,para nossas vitórias eleitorais e principalmente para o êxito dos nossos governos;*é preciso encampar urgente e efetivamente a “pauta da classe trabalhadora”, tal como apresentada pela CUT, inclusive o fim do favor previdenciário e a jornada de 40 horas;

*coerente com afirmar a urgência inadiável da reforma política, a presidenta Dilma Rousseff deve convidar a população a votar no Plebiscito Popular; *é preciso tomar medidas imediatas no sentido da democratização da comunicação e dar destaque a isto no programa de governo 2015-2018;

*é preciso abandonar o discurso equivocado que insiste em chamar de “classe média” os setores da classe trabalhadora que, graças às nossas políticas, ampliaram sua capacidade de consumo;*é preciso enfatizar a defesa das reformas estruturais;

*é preciso enfrentar a ditadura do capital financeiro, ampliando o peso dos bancos públicos, quebrando o oligopólio dos bancos privados, reestruturando a dívida interna, estabelecendo controle sobre os fluxos de capital.

Para continuar democratizando o país,ampliando o bem-estar social e trilhar um caminho democrático-popular de desenvolvimento,será necessário combinar ampliação da democratização política e políticas públicas universalizantes do bem estar-social, com um padrão de desenvolvimento ancorado em reformas estruturais: a reforma tributária, a reforma do setor financeiro, a reforma urbana, a reforma agrária, a universalização das políticas sociais, a reforma política e a democratização da comunicação. Reformas que do nosso ponto de vista, articulam-se a uma estratégia de luta pelo socialismo.

Precisamos libertar a economia e a sociedade brasileira de um padrão de desenvolvimento econômico que prevaleceu não apenas durante o neoliberalismo, mas ao longo de muitas décadas. Se não conseguirmos fazer isto, se não conseguirmos mudar o padrão de desenvolvimento, sofreremos uma derrota estratégica.

Por isto, o Partido dos Trabalhadores tem como objetivo não apenas vencer as eleições presidenciais, mas vencer criando as condições para um segundo mandato superior, melhor, mais avançado que o atual.

Por isto e para isto, seguiremos dedicando o melhor dos nossos esforços para a reeleição da presidenta Dilma Rousseff.

Descarregue aqui: Página13 nº135 set 2014 


Página 13

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