segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Guerra das Cores no Ceará


Há uma semana da eleição, o cenário político no Estado revela que o que está em jogo nas urnas, além dos tons das bandeiras, é uma disputa entre matizes programáticas opostas e não necessariamente em campos adversários

Por Rafael Tomyama*

As eleições em 2014, após quase doze anos de governos do PT na presidência, estão marcadas pela polarização entre os projetos nacionais de esquerda e de direita, capitaneados respectivamente pelo PT e pelo PSDB. Em meio a estes campos opostos tenta se viabilizar uma suposta “terceira via”, da denominada Rede Sustentabilidade, abrigada na legenda do PSB. Depois de um momento de comoção e superexposição midiática decorrente da morte do candidato Eduardo Campos, a candidatura substituta de Marina Silva, parece vitimada por um movimento descendente nas pesquisas eleitorais, que põe em dúvida a sua presença num eventual segundo turno.

O súbito crescimento de Marina acabou forçando um reposicionamento à esquerda da candidatura de Dilma (PT), a qual passou a direcionar sua estratégia na relação das conquistas no governo com as lutas da classe trabalhadora. A politização da campanha petista, atendendo à senha dada por Lula, e a percepção da maioria do eleitorado das contradições da própria candidatura de Marina, que prega uma “nova política” ancorada no conservadorismo retrógrado, explicam em boa parte sua derrocada.

Verdes

No Ceará, a candidata do PSB ao governo, Eliane Novais, não consegue o mesmo desempenho de sua candidata nacional. O cenário local é protagonizado por dois grupos alinhados com Dilma, embora se oponham entre si. Pelo menos formalmente, interessa a estes grupos colar a imagem na candidata à reeleição que teria em torno de 58% dos votos do estado, segundo as pesquisas. A diferença é que o PROS dos irmãos Gomes é aliado do candidato petista Camilo Santana e o PMDB de Eunício Oliveira compõe com o arquiinimigo PSDB, de Tasso Jereissati, candidato ao Senado.

O tom musgo da campanha do ex-aliado governista no Ceará, o atual senador Eunício, é a marca do conservadorismo de direita de sua campanha. O candidato, que é tido como detentor de um crescimento prodigioso de seu patrimônio pessoal (embora curiosamente não tenha nenhum negócio em seu nome), construiu igualmente, ao longo do tempo, o domínio familiar sobre sua legenda, o PMDB no Ceará. A parentada e os sócios dos Oliveira se comparam à poderosa oligarquia dos Gomes, na adoção de métodos truculentos em benefícios de seus projetos particulares de poder. Ambas oligarquias constituem segmentos empresariais dominantes. E ambas protagonizam ataques verbais violentos entre si, como se nunca tivessem sido aliadas.

Amarelos

Já a campanha do petista Camilo Santana usa a cor que os Gomes adotavam no tempo em que estiveram abrigados no PSB. O amarelo dos oligarcas aliados é mais conveniente do que o laranja com azul, de sua neolegenda, o PROS, porque remete à derrota que impuseram ao PT em Fortaleza, quando o atual prefeito Roberto Cláudio tomou a eleição em 2012.

O simbólico reflete a tática contraproducente de ter um candidato filiado ao partido que tentam desconstruir. Nesta contradição em termos pode estar a causa de Camilo manter-se em desvantagem nas pesquisas. A aparente simbologia das cores revela a falta de sentido programático, que se foca exclusivamente numa espécie de comodismo conservador.

Enquanto em nível nacional, a campanha de Dilma dá uma guinada e adere a um corte classista para se diferenciar e colar a imagem do capital à candidatura adversária, no Ceará o PT permanece submetido ao projeto de perpetuação de poderosos interesses e negócios. A campanha Cidista tem um candidato Cidista que sob o auspício marqueteiro Cidista se preocupa apenas divulgar as realizações do governo Cidista. Como se fosse uma chuva de benesses e sem fazer a relação com as lutas sociais, a campanha de Camilo não decola, a não ser se submetendo cada vez mais ao jogo baixo da politicagem, tipicamente Cidista.

Vermelhos

A esperança de tudo ser diferente parece ir por água abaixo. As plenárias com a militância no PT se resumem ao oba-oba dos chavões e confetes nas “autoridades” de uma nau sem rumo. Nem bate-boca com pescoção muda o quadro. A chamada onda vermelha não passa de uma marola frente ao tsunami da cavalaria amarela endinheirada. De certa forma, a chamada “esquerda petista”, uma parte cooptada pela maioria subalterna e outra que se recusa à fazer a campanha majoritária, acaba por colaborar com a tática dos que querem a desconstrução do PT.

Somente uns poucos parecem dispostos ainda a adotar iniciativas de resistência e enfrentamento. Mais do que uma guerra semiótica – de símbolos, cores e imagens – o problema para o PT cearense é a falta de conteúdo político coletivo de seu projeto partidário. A tática da maioria petista anterior à eleição foi armada para pavimentar o projeto pessoal de um candidato ao Senado (como se o interesse fosse do conjunto). Como este “sonho” foi descartado com a mesma facilidade que um Ferreira Gomes troca de partido, e os que formam a maioria do PT baixou a cabeça como sempre, para estes não há muito que fazer, a não ser continuar caladinho e aguardar, pra ver se se juntam os cacos no final. E se ainda resta credibilidade entre o meio popular que enxerga(va) o PT como instrumento de luta e não como um capacho desbotado.

Da nossa parte, o PT Vermelho não se rende. E vai continuar incomodando os acomodados. Outros Outubros Vermelhos virão!

*Rafael Tomyama é membro da Articulação de Esquerda e do Diretório Estadual do PT-CE.

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