terça-feira, 13 de outubro de 2015

Stédile: "É preciso mudar a política econômica"



Fala do João Pedro Stédile, em Fortaleza, em 23 de setembro de 2015

Transcrita por Rafael Tomyama, do vídeo gravado por Daniel Bezerra

"Estou deveras emocionado com este abraço que todos me deram, neste ato simbólico. E como já disseram, não tem nada de pessoal. É um abraço da classe trabalhadora, dos que querem mudanças neste país. E que de alguma forma eles tentaram ofender ontem à noite. Cá entre nós, não contem pra eles: não me senti nem um pouco agredido [aplausos]. É claro que demonstraram falta de educação, civilidade e respeito e intolerância à democracia. Mas tudo que estavam me dizendo era verdade, então fiquei quieto. [risos]. Eles falavam: 'O MST invade terra'. É pra isso que criamos o MST Queremos acabar com o latifúndio desse país! Enquanto houver latifúndio haverá ocupação de terras [aplausos], com o MST ou com o povo em geral que precisa de terra. Depois ficaram dizendo: 'Vão pra Cuba'. Eles nem sabem, já estamos lá em Cuba há tempos [mais aplausos]. Quero aqui de público agradecer o povo cubano, porque nesses dez anos, os movimentos e o povo brasileiro, formaram na Escola Latino-Americana de Medicina, 580 médicos pobres para trabalhar com o povo [aplausos]. E em certa ocasião estive visitando nossos estudantes - do MST foram 58 até agora - e saí de lá convencido que, entre os 580 que se formaram, havia mais médicos brasileiros negros do que em todas as universidades brasileiras [aplausos]. Então a nossa burguesia tem raiva de pobre, de preto, de tudo, porque ela ainda não saiu da casa grande e não consegue conviver com a senzala."

"Depois, pra terminar, quando já estava no estacionamento, devo confessar: também não senti nenhum medo. Olha a minha escolta aí [apontando para a profa. Adelaide]. A bichinha é boa de briga, porque ela ficar respondendo [risos]. E eu: 'Calma, calma que o leão é manso!' [mais risos]. Mas no final, né Adelaide, quando já estávamos no estacionamento, eles fizeram a última acusação: nos chamaram de 'comunistas!!!' [gargalhadas]. Somos comunistas desde a Comuna de Paris! [risos] Eles não sabem o que é ser comunista. Só sabem o que é ser egoísta, individualista, explorador, capitalista. [aplausos]."

"Durante todo o dia de hoje, recebi inúmeras manifestações de carinho e solidariedade de todo Brasil, o que se repetiu aqui ao vivo e a cores. No que pude responder a eles, disse que não se preocupem com o que aconteceu. Estou aqui durante todo o dia, no congresso dos servidores públicos do Ceará, com 600 delegados da classe trabalhadora. Estou em casa e muito bem [aplausos]. E agora estendo um pouco mais a casa, com um público mais jovem [mais aplausos]."

"Queria agradecer também por essa oportunidade de conversar com vocês, por iniciativa do instituto [Movimento da Democracia Participativa] que já vem com estas atividades. E que já tinham falado também em trazer o Mujica. Não comigo, né? Virei para vê-lo. Mas faço de público que temos uma agenda pra janeiro [de 2016] com o Mujica numa atividade do MST em Pernambuco e vamos fazer um esforço para que ele emende até aqui [aplausos]."

"Aproveitando a generosidade de vocês e esta unidade que se criou aqui, muito importante e necessária. As iniciativas de debate também são mais do que necessárias por tudo que vou comentar depois. O que queria compartilhar com vocês não é discurso, se bem que o ambiente até que estava bom, porque qualquer coisa a turma bate palmas [risos]. Está mais para comício do que pra reflexão [mais risos]. Nós, da esquerda brasileira, temos um desvio que temos que corrigir. A esquerda latino-americana é mais reflexiva que nós. Eles fazem atos públicos que mesclam com música, mística, teatro e os discursos em geral são profundos e reflexivos. E escolhem uma ou duas pessoas. Perceberam isso nas atividades partidárias e políticas dos povos latino-americanos. A esquerda brasileira não aprendeu. Na esquerda brasileira temos uma mania de que cada sigla tem que falar. Isso é um equívoco [aplausos]. Porque a gente se ilude que está dando voz a todos e acaba não dando voz a ninguém. Porque os nossos atos políticos têm que ser de debate de ideias. Têm que ser momentos de acúmulo, de reflexão, para que a militância e a classe se apropriem da reflexão coletiva."

"A sociedade brasileira está entrando num período histórico de transição, de disputa de projeto. Ou seja, é uma conjuntura particular da luta de classes, que só ocorre de tempos em tempos: quando a hegemonia do projeto em vigor se quebra e as forças sociais não conseguem ainda criar um novo projeto. Isso aconteceu em 1984-1989 quando derrotamos a ditadura e construímos uma unidade em torno do projeto democrático-popular, porém fomos derrotados pela burguesia. Daí se implantou a hegemonia do neoliberalismo durante 15 anos e que causou enormes prejuízos às condições de vida do nosso povo, e a perca de patrimônio pelo processo de privatização que o Fernando Henrique fez. Se houvesse um poder judiciário honesto neste país, ele deveria estar respondendo por crime de lesa-pátria, só pela entrega da Vale do Rio Doce."

"[Nesta época,] acordos [com o Imperialismo] contra a classe [trabalhadora] a fizeram ser derrotada política e ideologicamente. Infelizmente, coincidiu com a derrota do campo socialista. Felizmente, com as contradições que só a dialética explica, conseguimos em 2002 ter uma vitória da classe trabalhadora, porém restrita ao campo eleitoral. E esta vitória do Lula em 2002, nos permitiu derrotar politicamente a burguesia com seu projeto neoliberal, porém, como a classe [trabalhadora] estava em refluxo, o Lula só ganhou as eleições porque teve que fazer uma aliança com setores da burguesia. A aliança registrada em cartório - brincadeira à parte - naquela carta de 2 de julho, a Carta ao Povo Brasileiro, que na verdade cá entre nós, era uma 'carta aos banqueiros'. Que depois até foi registrado no filme do João Sales 'Entre Atos', para quem gosta de cinema. Ele acompanhou toda a campanha e registrou - além das horas filmadas que estão em arquivo - e revela no filme que quem a escreveu foi o Delfim Neto, que passou pro Palocci, que passou pro Lula, dizendo: 'O mercado tá exigindo uma resposta'. Não existe mercado, isso é um fetiche. O que existe é vontade da classe dominante. Quando na imprensa a gente ouve: 'o mercado quis assim' é porque eles têm vergonha de dizer: 'a burguesia quer assim'. Então usam o mercado como fetiche.

"A vitória do Lula foi importante, nós brecamos a burguesia neoliberal e implementamos um programa, que não era o nosso. O nosso era o de 1989, democrático-popular. Mas foram [devido às] condições da correlação de forças, pra não cairmos no idealismo. (...) Na sociedade capitalista não é a vontade o que resolve."

"O neodesenvolvimentismo, de 2003 à 2013, se baseou num tripé: crescimento da economia pela indústria (o motor da economia moderna), recuperação do papel do Estado frente ao mercado (e desenvolver políticas públicas) e distribuição de renda (resolver problemas da população mais pobre). (...) Por que não conseguimos fazer as reformas estruturais? Por que Lula não fez uma Constituinte em 2003? Porque não depende só da vontade das pessoas, mas sobretudo porque a classe trabalhadora ainda estava em refluxo. A única força que manifestamos como classe foi o voto, mas não a luta. Faltou ao governo Lula a retarguarda da mobilização popular, que houve na Bolívia, na Venezuela, no Equador. E que permitiu vitórias e mudanças estruturais. Assumamos a autocrítica: a classe trabalhadora desde 1989 está em refluxo, com classe em movimento."

"De 2013 prá cá, o modelo do neodesenvolvimentismo se esgotou na sua possibilidade de resolver problemas. Porque a economia brasileira entrou em crise, independente de qual Ministro da Fazenda [está lá]. Porque a economia brasileira é dependente do capitalismo internacional. Porque quem manda no dia-a-dia da economia são os bancos e as empresas transnacionais. São eles que controlam o setor produtivo da nossa sociedade. Por exemplo, no orçamento do governo, somando-se tudo que o governo gasta com agricultura: Ministério, Embrapa, MMA, Pesca, Incra, dá mais ou menos R$ 12 bi. A maior empresa agrícola multinacional que atua no Brasil, a Bunge, cujo presidente é o Pedro Parente, ex-Casa Civil de FHC, investe por ano no país US$ 3 bi, em máquinas, terra, produção, empregados contratados. Portanto, a Bunge sozinha tem um poder econômico ao seu dispor maior do que o Estado brasileiro. Isso é que é correlação de forças. E representa os limites que o neodesenvolvimentismo tinha para avançar nas reformas estruturais. O maior opositor da reforma agrária, que está parada, é claro que não é o governo. Tivemos vários ministros de esquerda, inclusive. E sim a força do agronegócio, do capital instalado no campo, avançando independente do governo. Então quem disputou o latifúndio improdutivo com o MST, não foi o Incra, foi o agronegócio. E eles evidentemente tinham mais força do que nós."

"Os limites do neodesenvolvimentismo, que entrou em crise como modelo de dois anos pra cá. Porque aqueles três pilares não se realizavam mais, sobretudo o crescimento da indústria, que foi brecada pelo poder do capitalismo internacional. Delfim Neto denuncia somente agora que o processo de especulação cambial que os bancos faziam contra a economia brasileira, mantendo a taxa de câmbio fictícia do real para o dólar, valorizando o real mais do que o seu real valor, causou um prejuízo de US$ 550 bi ao setor industrial brasileiro. Ou seja, parte da burguesia brasileira perdeu dinheiro para os bancos que manipulavam a taxa de câmbio durante o neodesenvolvimentismo. Uma espécie de acumulação sem produção efetiva."

"Chegamos à seguinte situação hoje, que é mais ou menos consenso entre as forças de esquerda, menos o PSTU, que é um caso a parte a ser explicado pela psicologia. Estamos enfrentando três crises graves. A crise que não será analisada aqui, mas que parou a indústria. A economia faz dois anos que não cresce. Os investimentos na produção estão parados. E, portanto, se não há investimento não há crescimento nos próximos anos. A expectativa mais otimista é que o crescimento volta lá por 2018. Então vamos viver um período difícil para a classe trabalhadora e para a economia como um todo. O governo acabou de anunciar que a economia vai cair este ano 2,5%, o que já é a recessão."

"Temos uma crise social, que não aparece nos jornais e que a esquerda ainda não se deu conta. Então estou falando de uma autocrítica, embora apareçam no debate interno. Aquelas mobilizações de junho de 2013, importantíssimas para a juventude, que denunciavam as mazelas não resolvidas no neodesenvolvimentismo, não só não foram resolvidas nestes dois anos como se agravaram. Alguma dúvida? Os programas MCMV estão parados há dois anos. Por que voltaram as ocupações urbanas com mais intensidade? Porque não tem casa. Portanto, há uma bolsa de tensionamento nas grandes cidades e que ninguém sabe quando vai estourar. Temos problema com transporte público. O trabalhador brasileiro paga para ser sardinha. Felizmente, tem o prefeito de Maricá-RJ que cito como exemplo. Numa cidade com 200 mil habitantes, a prefeitura estatizou o transporte público e o tornou gratuito para todo mundo. Portanto, é a prova de que é possível, mesmo numa pequena prefeitura. Temos também um problema social com a juventude. São 8 milhões que todos os anos saem do ensino médio e fazem o Enem. E quantas vagas a universidade brasileira oferece? 1,6 milhão. Entre pública e privada. E os outros 6,4 milhões? O que lhes será dito? 'Façam Enem ano que vem'? 'Façam o Pronatec da Kátia Abreu'? 'Virem eletricistas'? Não. Nossa juventude quer ter o direito de entrar na universidade para encarar o mundo moderno. Agora, para colocar seis milhões de novos estudantes / ano são precisos investimentos pesadíssimos. Não basta colocar um ministro filósofo, dizendo: 'Vou pensar... para onde vai a educação...' Aí têm que ser investimentos pesados que tem que tirar... dos juros. Porque dinheiro tem, só que estão sendo desviados para outras coisas."

"Por último, temos uma crise política, que pode ser analisada de vários ângulos, mas o principal deles é o de que os capitalistas sequestraram a democracia formal pelo sistema eleitoral que vivemos. Conforme denúncia, dez empresas elegeram 70% dos deputados. Então não tem mais bancada por partido: é bancada do Bradesco, da bala, da igreja, etc. O [Eduardo] Cunha é acusado no processo da Lava-Jato de ter recebido 100 milhões das empreiteiras, que ele teria distribuído e eleito 204 deputados que estão nas mãos dele. São de partidos de aluguel, que independente das siglas [a que pertencem] foram financiados. A operação Lava-Jato não trata apenas do problema da corrupção. Diretores da Petrobras que colocaram a mão no dinheiro têm que devolver e ir pra cadeia. Porém não se resume a estes que eram apenas uma peça no sistema. O [cerne do] problema é que todo aquele dinheiro era para sustentar o sistema eleitoral de todos os partidos. O juiz Moro, cuja mulher é advogada do PSDB, manipula na hora de publicar as informações vazadas do processo. Porque entre os prováveis réus, o PSDB foi o que mais utilizou os 44 milhões, investigados na Lava-Jato. Mas isso não vaza. Vaza só quando pega alguém do PT. Aqui uma autocrítica de novo para a esquerda. A esquerda está quieta. Fala em lava-jato, leva um susto. Perdemos a oportunidade de lavar o sistema eleitoral brasileiro, que leva que exista uma lava-jato a cada eleição. Neste sentido, a recém anunciada decisão do STF [de vetar doações eleitorais de empresas] é muito importante porque pelo menos coloca um breque. Embora, a porta do caixa-dois e das outras falcatruas vai continuar."

"Estamos diante de um diagnóstico grave. Como disse no início, não é sempre na História que acontecem estas crises. Como em 1964, em 1989 e agora, bateu na nossa porta. Então se abre um período de transição, em que o modelo antigo já não funciona - o neodesenvolvimentismo - e não sabemos o que colocar no lugar. Nem temos forças articuladas para colocar [algo] no lugar. Então só tem um jeito: aglutinar as forças de esquerda e debater, para encontrar as saídas que a classe trabalhadora quer para este momento de crise. Mas o pior dos mundos é errar no diagnóstico e fazer de conta que não tem crise."

"Avançando um pouco mais. Como as classes estão se comportando, para tentarem se aglutinar, para apresentar saídas para as crises? Na classe dominante, estão divididos, por ora. (Para nossa sorte, porque quando se unirem da Temer). Daí a dificuldade de se arrumarem institucionalmente, porque primeiro eles têm que acertar numa mesma proposta. Porque o setor hegemônico da burguesia brasileira, que são o capital financeiro e as empresas transnacionais, tem o projeto de voltar ao neoliberalismo. Isto é explícito no jornal Valor Econômico, que o único que circula apenas entre a burguesia com alguma credibilidade já que ela não iria mentir para si mesma. Veja, Istoé são folhetins que não funcionam nem no banheiro. Portanto, os bancos e empresas que têm mais poder explicitam isso (a volta do neoliberalismo) na defesa do realinhamento da nossa economia com os EUA. Não têm coragem de falar na Alca, porque já foi derrotada, então dizem um novo acordo bilateral. No fundo, a lógica deles é a mesma de 1964. Eles sabem que para a economia voltar a crescer têm que haver pesados investimentos produtivos, como eles não querem (porque são o sistema financeiro) então pensam o seguinte: 'se nos aliarmos de novo ou nos subordinarmos mais ainda, com um acordo de livre comércio, os americanos vêm aqui investir, para produzir um novo milagre econômico, como ocorreu antes.' Ilusão deles. A segunda proposta é o Estado mínimo. Corte de gastos sociais, que não são vistos como investimentos e sim como 'gastos': com saúde, educação, etc. E o terceiro pilar é o corte dos direitos trabalhistas. Porque isso eles sabem melhor que nós, estudaram Marx melhor que nós. (...) Para competirem com a burguesia internacional, depende de pagarem menos salário, menos direitos para a classe trabalhadora."

"Há um segundo setor da burguesia, ligado mais à produção, às empreiteiras, que não concorda com isso. No fundo, sonhariam com a volta ao neodesenvolvimentismo. Por isso que muitos deles vão lá no Instituto Lula pedir 'Volta Lula'. Ou seja, tem uma parte da burguesia que ainda sonha em repactuar conosco. Mas temos que perguntar a eles se vão brigar com os bancos? Ou só querem nos acalmar? Então é um setor vacilante, não têm claro entre eles, mas têm um certeza: para taxa de lucro deles aumentar, dependem do mercado interno. Portanto, não é conveniente para uma Friboi que um trabalhador assalariado diminua o salário, porque vai parar de comprar carne. A Nestlé não quer que a turma pare de comprar leite em caixa."

"E há os lumpens, que andam pelas ruas de vez em quando pregando o golpe. São os cães da burguesia. Ficam latindo o programa mão não têm força social por trás. É claro que não está descartado o golpe contra a Dilma, mas os que estão defendendo não são a força. Então, por hora, o golpe está descartado, porque as outras duas forças reais econômicas que há na sociedade (ainda) não se decidiram pelo golpe. Porque fazem uma análise política que é muito perigoso aplicar o impeachment na Dilma e se desatam forças populares que ninguém sabe no que vai dar. Porque pelas mesmas razões jurídicas que tem pra tirar a Dilma, têm pra tirar o Alckmin, Pezão, Richa, Sartori, etc. Foram perguntar pro doido do Hélio Bicudo - que nem sei como classificar, acho que como um 'cristão iludido' - com seus 92 anos, 'Mas o Sr. tem certeza que quer o impeachment da Dilma?' e ele respondeu: 'Esqueci de escrever na petição que quero também o do Congresso nacional inteiro'."

"Já que todo mundo aqui é governista, menos eu e o Ailton (MST) [risos]. Brincadeira. Se não ninguém presta atenção [mais risos]. Temos uma dificuldade na atual luta política institucional porque o nosso time em Brasília só faz gol contra. E não há torcida que se mantenha no estádio pra ver isso. (...) [Diante] da confusão geral na sociedade que é a [condução da] política econômica que a Dilma entregou pro Levy (mas mantendo as suas responsabilidades). Como a classe dominante não tem unidade [acerca de] qual o projeto ela quer colocar no lugar, nem tem coragem de explicar para a população que é o neoliberalismo, ela está adotando agora uma tática de ir 'plantando' o seu projeto naqueles espaços da sociedade em que ela tem hegemonia. Então ela vai plantando no Congresso, basta olhar a pauta dos projetos lá, é o neoliberalismo puro ou pior. No Judiciário, olha a pauta que a burguesia vai dando pro Gilmar Mendes, pro Moro. É a do neoliberalismo. O G. Mendes, a propósito, perdeu a compostura, até tirou a toga e virou o porta-voz do FHC no STF. E utilizando a mídia, outro espaço hegemonizado por ela, para projetar o que eles querem e não os verdadeiros problemas que poderiam levar a sociedade à uma reflexão mais séria."

"Por último, não só por minha conta, mas nos movimentos temos discutido que estão infiltrando o programa neoliberal, por meio de seus agentes que têm dentro do governo Dilma, como Levy e outros ministros, que estão lá aplicando o [receituário do] neoliberalismo. Inclusive nas grandes empresas estatais: o senhor que está na Petrobras agora, [Aldemir Bendine,] é um convicto neoliberal. Assim como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste do Brasil. Então, quatro principais operadores públicos da economia estatal são geridos por pessoas convencidas ideologicamente pelo neoliberalismo. Escapou o [Luciano] Coutinho [(BNDES)], que é Cepalino [(originário da Cepal)]. Então é claro que estes operadores, começam a operar o que o mercado quer e não o programa eleito em outubro de 2014. E isso gera uma dificuldade para debatermos o projeto. E por isso temos unidade nos movimentos populares em se fazer uma crítica contundente à política econômica do governo Dilma. Vamos defendê-la, por uma questão de democracia, porque votamos nela. Mas não aceitamos as burradas da política econômica, que a está levando a perder as bases sociais, inclusive. É preciso mudar a política econômica. Como uma medida de emergência, porque ainda não estamos resolvendo o debate do projeto para enfrentar as três crises."

"Finalmente então, no campo da classe trabalhadora - sentido genérico - estamos enfrentando muitas dificuldades para construir o nosso projeto. Não está sendo fácil, mesmo no tema da reforma política, ainda não temos unidade entre os movimentos populares. Alguns achavam que só o 'Devolve Gilmar' era suficiente, outros, o projeto [iniciativa popular] da coalização, outros querem uma Assembleia Constituinte, ainda que saibamos que ela só virá quando tivermos o reascenso do movimento de massas nas ruas. Ou seja, uma outra correlação de forças. Então não vamos nos iludir que a Constituinte é pro mês que vem. Por agora, é o 'devolve Gilmar' e aprovar os projetos que a coalizão apresentou no Congresso e que estão 'passando o rodo'. Mas como projeto de médio prazo, não temos ainda uma unidade [sobre] de qual reforma política precisamos, nos seus detalhes. Porque se não também caímos no contra-corrupção, o que é pouco. Temos que reformar todo sistema político-eleitoral do país. E pra isso, é preciso uma outra correlação de forças, que ainda não temos."

"As energias que estamos colocando agora é justamente as de criar um ambiente de unidade entre as mediações da classe trabalhadora: sindicatos, partidos, associações, igrejas, pastorais, movimentos. E criar um clima de debate para que todos aportem e debatam qual é o projeto que temos que construir pro futuro e para poder enfrentar as três crises. Sabendo que vai ser [um debate] de médio e longo prazo. Então isso não é pra assustar ninguém, pois aqui temos uma responsabilidade: estamos analisando a conjuntura e a correlação de forças. O período histórico que estamos vivendo é tão complexo e sui generis que só vamos sair dele daqui a três, quatro ou cinco anos. Por que não dá pra sinalizar tempo? Porque não vamos decidir inclusive pela via eleitoral. Cá entre nós, já que somos todos companheiros aqui, o Lula já se apresentou: 'Olha, essa esculhambação não está funcionando. Vou voltar em 2018'. Na cabeça do Lula (vai aqui uma crítica fraternal) está: 'ganho a eleição e volto o programa neodesenvolvimentista'. Mas os que estamos aqui, se o Marx não está errado, já descobrimos que o modelo neodesenvolvimentista já bateu no teto, Não é porque não queremos, é porque a burguesia já pulou fora. Então, ganhar em 2018, na expectativa que viabilize o neodesenvolvimentismo, é furada. Podemos até elegê-lo em 2018, desde que seja como parte de um conjunto de forças com um projeto popular, para resolver os problemas da classe trabalhadora."

"Estas são reflexões. Não são ideias para pedir adesões. São ideias levantadas para pensar e debater nas instâncias. Não precisamos ficar nos desmentindo. Tudo está em aberto, porque é uma conjuntura de mudanças, de transição. E de necessidade de construirmos uma unidade entre a classe trabalhadora."

"A classe trabalhadora precisa tomar a iniciativa de fazer o debate. Ela precisa exercitar a sua força política principal que é a luta de classes. Que se manifesta nas ruas como agitação e propaganda do projeto. Mas a nossa força real, na hora mais crucial, vai ser quando enfrentarmos os capitalistas com: greves, paralisações, ocupações de terrenos nas cidades e dos latifúndios. Aí disputamos a força com eles. Não só na manifestação, que é importante e necessária, mais que funciona muito mais como formação política e como agitação e propaganda para a sociedade. Só que notem a dificuldade que temos: Fomos em março, abril e agosto. E quais foram as ideias que agitamos na sociedade? Todas defensivas. Somos contra: o golpe, o ajuste fiscal, o Levy. Contra, contra, contra. Mas e quando que vamos começar a ganhar?"

"As manifestações, daqui pra frente, têm que começar a explicitar uma proposta da classe trabalhadora. O que queremos? Que política econômica queremos? Inclusive para não cair na política menor de personalizar. Claro que a gente coloca a culpa na Kátia Abreu e no Levy, porque é uma forma didática de explicitar quem são os porta-vozes do inimigo. Mas eles não são os responsáveis. Os responsáveis são a classe [burguesa] que eles representam."

"Do lado de cá, temos um déficit de debate e de construção programática. Esperamos que nos próximos meses [possamos fazê-los]. Temos uma necessidade de retomada dos movimentos de massa. Porque até agora, apenas mobilizamos os militantes, as mediações. Em São Paulo botamos 40 mil, numa sexta-feira, 20 de agosto. Mas em 1989, no reascenso de massa, a classe trabalhadora botava dois milhões. Enquanto não colocarmos os mesmos dois milhões em São Paulo, não trucamos a burguesia. Só vamos ficar na manifestação, na agitação e propaganda."

"Estas são algumas das reflexões, que não são minhas, nem do MST. Fazem parte desse conjunto de movimentos que estamos construindo, a Frente Brasil Popular. Há notícia de que no Ceará também está sendo construída, com um calendário pela frente. Mas sobretudo, o que nos propomos com a FBP, além de estimular a luta de massas, é pensar um programa para classe trabalhadora, que seja coletivo e de todo mundo. Por isso, já anuncio também que agora, no dia 28, o nosso setor, digamos, de economistas de esquerda, vai lançar uma plataforma de que política a classe trabalhadora precisa, para se contrapor inclusive e não ficar só na crítica ao Levy

https://youtu.be/KDy8gWkVM9M

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