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Editorial
O ano que não acabou
Fechamos esta edição de Página 13 um dia depois do velório e cremação do corpo da companheira Marisa Letícia. Não temos a menor dúvida de afirmar que seu falecimento tem relação direta com os ataques contra ela, seus filhos e seu companheiro Lula.
O ano do golpe prolonga suas sombras sobre 2017.
Por outro lado, há reação. Um sinal disto foi a posição da bancada do PT na Câmara dos Deputados, que decidiu apoiar André Figueiredo (PDT) à presidência da Mesa Diretora daquela casa. Mas esta não foi a posição da bancada do PT no Senado, que por maioria decidiu liberar a bancada na eleição da Mesa, embora a maioria dos senadores não tenham dado seu voto ao golpista Eunício Oliveira (PMDB).
Foi a intensa mobilização da base partidária, em torno da consigna “petista não vota em golpista”, que produziu um recuo total na Câmara e um recuo parcial no Senado daqueles que defendiam apoiar Rodrigo Maia e Eunício Oliveira.
De toda forma, há setores do Partido que ainda não aprenderam as lições do golpe. Votar em golpistas, em troca de espaços secundários nas Mesas, pode fazer sentido para quem tem uma visão menor do papel dos mandatos parlamentares de esquerda. Ou para quem é adepto de uma visão estratégica que podemos resumir popularmente assim: melhor um péssimo acordo, do que uma boa luta.
A militância do Partido, mobilizada, mostrou que é a favor de outra estratégia e tem outra concepção acerca de qual seja o papel dos mandatos parlamentares.
Uma novidade deste processo é que ficou demonstrado que, no interior da tendência atualmente majoritária do Partido (chamada de “Construindo um Novo Brasil”), há setores que se comportam como se fossem uma fração minoritária.
A postura dos senadores José Pimentel, Humberto Costa, Paulo Rocha e Jorge Viana, todos eles integrantes da tendência majoritária no Partido, é reveladora disto.
Sabendo que a maioria dos senadores era contra o voto em Eunício, tinham pelo menos três opções legítimas: aceitar a posição da maioria; rebelar-se contra esta posição; recorrer à executiva nacional do PT. Escolheram uma quarta e pior opção: trabalhar para liberar o voto e impedir o Partido de ter posição.
Seja como for, o resultado final deste processo é uma derrota daqueles que, no PSOL e em outros setores críticos ao PT, torciam disfarçada ou abertamente para que o PT deliberasse pelo voto em Rodrigo Maia e Eunício de Oliveira. Registre-se, neste sentido, a péssima decisão do
PSOL, de na enésima hora lançar a candidatura de Luiza Erundina à presidência da Câmara dos Deputados. Uma decisão que antes teria sido legítima mas que, ao ser adotada depois da decisão do PT de apoiar André Figueiredo, não passou de uma versão esquerdista do cretinismo parlamentar.
O resultado final da batalha acerca da tática do PT na eleição da Mesa da Câmara e do Senado foi, também, um ponto de apoio para aqueles que, no PCdoB, lutam para que seu partido adote outra política. Com o perdão de Proust, “a busca do centro perdido” serve de pretexto para uma estratégia de conciliação de classes muito similar àquela que criticamos na postura de alguns setores do PT.
O mais importante nisto tudo é que ficou demonstrado que é possível disputar os rumos do PT. A batalha em torno da tática das bancadas na eleição das Mesas das duas casas do Congresso Nacional foi, também, a primeira batalha do 6º Congresso do Partido. Ficou demonstrado, para quem tinha dúvida, que vencer não é uma batalha impossível.
Aos 37 anos do nosso Partido, cabem sim o esforço e a luta para mudar seus rumos.
Página 13
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