segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma alternativa de direção para UNE

Por Jonatas Moreth*

Está chegando mais um Congresso da União Nacional dos Estudantes, o evento mais importante do Movimento Estudantil Brasileiro. Momento privilegiado para discutirmos o mundo e o nosso País. Hora de debater o movimento estudantil, seu papel, seu potencial de mudança e suas dificuldades.

Voltaremos a Goiânia, mesmo cenário do último encontro. Desta vez, com a presença de novos atores (e outros nem tão novos), que desde já, desempenham inúmeros papeis nas cenas de mais um capítulo da história da UNE e do movimento estudantil.

Se a história vai apenas se repetir? Bom, essas são as cenas dos próximos capítulos. Mas o que podemos saber desde já, é que temos a opção de escrever com tinta vermelha de nossa caneta muitas das novas linhas dessa história.

Esta certeza, que passa por inúmeros fatores, foi fortalecida no 14° Coneb, ocorrido em janeiro deste ano, em Recife. Lá ficou mais obvio do que nunca a grande ilusão da ideia que a UNE possui apenas dois lados. Estando em um deles o campo majoritário, um verdadeiro condomínio de forças políticas aliadas e do outro uma autointitulada oposição de esquerda.

Expressou-se com nitidez que um número cada vez maior de estudantes brasileiros não se sente representado tanto pelo esquerdismo, quanto pelo engessado e comodista campo majoritário, mero gerenciador de interesses institucionais.

Neste sentido, acreditamos que os estudantes que defendem uma UNE combativa e independente devem construir uma alternativa a essa polarização que, além de artificial, superestima e concede palanque para o esquerdismo, tornando mais difícil a posição daqueles que apóiam o Governo, mas não aceitam uma UNE chapa branca.

A votação da resolução de movimento estudantil no Coneb do Recife foi uma expressão desta realidade. Uma bancada superior a da Oposição de Esquerda votou nesta resolução, que foi apresentada pelo momentaneamente denominado Campo Popular, que reuniu entre suas teses a Reconquistar a UNE.

Quando chegarmos ao Conune, a posição das forças que compuseram este campo no Coneb terá um papel determinante no desfecho do Congresso. Estamos diante da possibilidade de consolidação de uma alternativa de direção na UNE que pense e defenda uma universidade pública, democrática e popular. Que saiba reconhecer os acertos e os erros do governo e que em ambos mantenha uma postura crítica e firme. Além disto, que tem lado na luta cotidiana dos estudantes, que seja oposição a atual direção majoritária e ao esgotamento de sua política limitada e retraída.

Cabe aqui fazer um parêntese para dizer que, precisamos ter forças para influenciar nos rumos da UNE. Mas isto deve ser construído pela oposição. Há aqueles que acreditem ser possível ter algum tipo de influência estando no condomínio do campo majoritário. Essa, no entanto, é em nossa opinião uma tese absolutamente equivocada. Submeter-se ao campo majoritário é também se submeter à política apresentada por sua força hegemônica.

Construir uma nova direção para o movimento estudantil é, por óbvio, muito mais do que derrotar uma direção majoritária. Mas achamos impossível construir uma “nova” hegemonia, a partir de uma composição com a “atual” força hegemônica. O máximo que se pode conseguir, através deste caminho, é participar da maioria, não mudar a sua direção.

É mais do que necessário esclarecer esta questão porque no discurso e na retórica, é fácil transfigurar ou omitir este fato, haja vista a quantidade de forças políticas que hoje estão vivendo no condomínio, e insistem na tese de que influenciam nos rumos da UNE. Sendo que nos momentos de embate a voz que se escuta é a de quem possui a procuração para falar em nome de todos.

Por esta razão, na construção de um campo que se proponha a ser uma alternativa de direção, um campo democrático e popular, a postura de oposição precisa ficar nítida. Do contrário, a margem para interpretações pode significar algum nível de condescendência com a política que hoje combatemos.

São estas algumas das linhas que podemos escrever neste novo capítulo da história da UNE. E, não podemos escrever mais do mesmo, pois para isso, já existe quem o faça. Se há uma prática, uma política e uma forma diferente de fazer as coisas, que julgamos serem as certas, não há porque não defendê-las. Não há porque fazer concessões. O que devemos é fazer luta por elas!


*Jonatas Moreth é dirigente nacional da AE e diretor de Políticas Educacionais da UNE


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