segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Página 13 de setembro


Editorial

Eleição sem Lula é fraude

A coalizão golpista tem unidade estratégica em torno de três objetivos: reduzir o salário direto e indireto pago para a classe trabalhadora; reduzir as liberdades democráticas; alinhar o Brasil com a política externa dos EUA e seus aliados.

Desde o golpe a coalizão vem conseguindo implementar seu programa. Entretanto, há dificuldades, que podem se avolumar e desembocar numa derrota eleitoral das candidaturas vinculadas ao golpismo.

Por isto a coalizão golpista vem buscando maneiras de interditar a candidatura Lula, inviabilizar o funcionamento do PT, dificultar a ação do movimento sindical, criminalizar a resistência popular e bloquear as brechas eleitorais da esquerda, por exemplo através do parlamentarismo, do voto distrital ou “distritão”, bem como vitaminando candidaturas populistas de direita.

Os golpistas têm à sua disposição, hoje, duas táticas para enfrentar 2018: a) a de buscar interditar a vitória eleitoral da esquerda e b) a de buscar derrotar eleitoralmente a esquerda. Já a esquerda, embora disponha de várias táticas, só dispõe de uma com potencial de vitória eleitoral em 2018: a candidatura, a campanha e a eleição de Lula presidente da República.

A caravana de Lula pelo Nordeste dá o tom do que pode ser ter Lula na disputa eleitoral em 2018.

Multidões se avolumam nos rincões nordestinos para receber o ex-presidente, que apesar da perseguição judicial e da guerra midiática contra a sua imagem, continua sendo recebido de forma calorosa e emocionada pelos brasileiros e brasileiras que sentiram na pele a melhora nas suas condições de vida durante os governos petistas.

Na Bahia e em Sergipe, estados onde a caravana passou até o fechamento desta edição, a recepção a Lula foi acompanhada de grande apoio popular a sua candidatura a presidente em 2018.

Também por isto não devemos subestimar até onde o golpisno irá para impedir que retomemos o governo federal.

Caso a direita interdite Lula, qualquer que seja a reação da esquerda, as chances de vitória eleitoral em 2018 serão muito reduzidas. Mas mesmo que seja candidato, a eleição de Lula está longe de ser o único cenário.

Alternativas como novo golpe, parlamentarismo e inclusive uma vitória eleitoral da direita estarão também colocadas.

Motivos pelos quais devemos insistir na mobilização de massas em defesa dos direitos.

Mesmo que não tenhamos êxito imediato, isto acumula forças para uma vitória na batalha eleitoral e, mesmo em caso de derrota em 2018, acumula forças para a resistência posterior.

E radicalizar o tom e a atitude na resistência, inclusive no parlamento, onde devemos tomar como parâmetro mínimo de atuação a atitude das bravas senadoras que ocuparam a mesa do Senado. Contra a violência, a desobediência civil é mais do que legítima, é necessária e recomendável sempre e quando seja compreensível para o povo.

Cabe, também, evitar as armadilhas postas para o PT no debate sobre a possível interdição de Lula. Por exemplo naturalizar a interdição, como se fosse algo banal, frente ao que o PT deveria agir com naturalidade, lançando ou apoiando outro nome. Pensamos o oposto: interditar Lula, assim como a possível adoção do parlamentarismo e o fim do voto proporcional, seria uma violência imensa contra a democracia, contra a esquerda, contra a possibilidade dos setores populares voltarem a governar o Brasil. Nossa reação a isto não pode e não deve ser banal.

Outra armadilha consiste em considerar que a interdição é inevitável e, portanto, preparar desde já as alternativas. Pensamos o seguinte: a interdição é muito provável e devemos nos preparar. Mas “nos preparar” não pode significar nada que naturalize e banalize a violência cometida contra nós, nem tampouco podemos abrir mão de lutar até a última possibilidade.

Reiteramos não existir “plano B”: eleição sem Lula é fraude. E é muito complexo decidir o que fazer diante de uma fraude. A esse respeito, basta dizer que -- caso a interdição venha mesmo a ocorrer, esgotadas todas as alternativas -- o PT teria diante de si três grandes alternativas: o boicote (ativo ou passivo, geral ou parcial); o lançamento de outra candidatura petista; o apoio à alguma candidatura de outro partido.

Tanto a mídia oligopolista quanto setores do Partido já vêm projetando candidaturas. Entretanto, além disto poder ajudar a legitimar a fraude, há que considerar que dentre os nomes lembrados, não há candidatura melhor que a de Lula, seja do ponto de vista eleitoral, seja do ponto de vista político-programático. Aliás, dificilmente uma candidatura alternativa poderia ser escolhida, sem que houvesse uma disputa. Finalmente, numa eleição que “sem Lula é uma fraude”, uma candidatura alternativa seria “para valer” ou uma anticandidatura de protesto?

O apoio a uma candidatura de outro partido apresentaria problemas semelhantes: o PT estaria sendo levado a ajudar a construir uma alternativa a si mesmo, enquanto partido que desde 1989 hegemoniza de fato a esquerda brasileira.

Finalmente, cabe lembrar que não está descartado que a interdição se estenda ao próprio PT e ao conjunto da esquerda. Portanto, devemos insistir na mobilização de massas em defesa dos direitos; radicalizar o tom e a atitude na resistência; esclarecer a população sobre os perigos; não banalizar a violência que se está praticando, nem aceitar o debate sobre o “plano B”; não abrir mão de lutar até que a última possibilidade esteja esgotada.

Só neste cenário, caberia discutir o que fazer, levando em consideração não apenas os efeitos táticos da opção, mas também os seus efeitos estratégicos, que devem ser coerentes com uma nova orientação, que abandone a política de conciliação de classes, retomando a defesa de um programa de reformas estruturais articulado com o socialismo.

É nestes termos que compreendemos a importância da defesa de Lula e, também, da mobilização que ele vem liderando por todo o país, a começar pela caravana do Nordeste.

Os editores

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