segunda-feira, 23 de abril de 2012

Artigo: Hollande ressuscita PS francês, e Sarkozy a extrema-direita

Resultado do 1º turno da eleição
francesa no domingo (22)
Neste domingo, François Hollande conquistou uma das maiores votações obtidas até hoje por um candidato socialista no primeiro turno das eleições na França. Agora as chaves da vitória estão, para Sarkozy, nas mãos da extrema-direita, e, para Hollande, nas de Jean-Luc Mélenchon e sua Frente de Esquerda, além dos votos de centro. Os 20% de Marine Le Pen representam quase um terremoto político. Esse resultado deve muito a Sarkozy e ao racismo de Estado que o próprio presidente encarnou. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

Eduardo Febbro - De Paris

Paris - “As pétalas da rosa de abril são mais numerosas que os cravos azuis de maio”. As redes sociais repercutiram essa mensagem para burlar a proibição de difundir resultados antes das 8 horas da noite e anunciar assim a vitória do candidato socialista François Hollande no primeiro turno das eleições presidenciais francesas. Mas a celebração não levou em conta a flor negra, o terremoto político que representa o resultado da extrema direita da Frente nacional, cuja candidata, Marine Le Pen, obteve um resultado histórico de 20%. Nicolas Sarkozy perdeu sua aposta e François Hollande ganhou a sua. Com 28,5% dos votos, o candidato do PS supera o presidente francês (26,6%) do primeiro posto e o impede de cumprir o objetivo que ele mesmo fixou: sair deste domingo na liderança da consulta, “ainda que seja por um fio de cabelo”, para, a partir daí, redinamizar a direita e ganhar o segundo turno no próximo dia 6 de maio.

A sanção para Sarkozy é indiscutível: o presidente obteve 5 pontos menos que na eleição de 2007. Ao contrário, François Hollande entrou na história não só porque se converteu em uma carta sólida para a socialdemocracia europeia, mas também porque conquistou uma das maiores votações conseguidas até hoje por um candidato socialista no primeiro turno da eleição. Só é superado por François Miterrand, que obteve 34% em 1988.

No entanto, o poderoso percentual da extrema-direita e o baixo volume de votos obtido pelo candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon (11,5%), convidam à moderação. Hoje começa uma nova campanha e como já demonstrou ao longo de seus cinco anos de mandato, Nicolas Sarkozy não terá nenhuma dúvida em sair a tentar conquistar os votos dessa França que vê na xenofobia, no ódio ao próximo e à imigração, na segurança máxima, no rechaço à Europa e no desprezo aos franceses filhos de pais estrangeiros uma alternativa política.

Essa eleição representa um marco em muitas coisas: é a primeira vez que um presidente que concorre à reeleição não sai na frente no primeiro turno; Marine Le Pen pulverizou o recorde de votos que seu pai e fundador da Frente Nacional, Jean Marie Le Pen, havia obtido em 2002, mais de 16,9%. Ao mesmo tempo, quase duplicou o volume de eleitores que seu pai obteve em 2007 (10,44%).

Neste domingo, os eleitores deram à social democracia francesa um forte respaldo que permite aos seus partidários sonhar sim que o pesadelo se afaste por completo das regiões do sonho. A partir de agora, as chaves da vitória estão, para Sarkozy, nas mãos da extrema-direita, e, para Hollande, nas de Jean-Luc Mélenchon e sua Frente de Esquerda. A guerra para o segundo turno entre Sarkozy e Hollande começou apenas algumas horas depois ao anúncio dos primeiros prognósticos sobre o segundo turno. Estes, mais uma vez, colocaram Hollande quase nove pontos acima de Sarkozy. Este propôs que sejam realizados três debates de hoje até o dia 6 de maio. Hollande respondeu: “não é porque um candidato tenha tido um mal resultado que vamos mudar as regras”. Em seu discurso á noite, Sarkozy disse: “o momento crucial chegou, o da confrontação de projetos e o da escolha das personalidades”. Em sua aparição ante os militantes, Hollande pronunciou um discurso equilibrado e otimista. “Temos todas as condições de obter uma vitória. Esta noite, com o voto dos franceses, converto-me no candidato de quem quer abrir uma nova página”.

Com um centro que diminuiu em relação a 2007 (caiu de 18,57% para os 8,9% atuais), uma candidata ecologista sem peso (2,3%), e uma extrema-esquerda periférica, a reserva de votos está na dupla Marie Le Pen-Mélenchon. Sarkozy perdeu a equação eleitoral que havia fixado para sua campanha: sair em primeiro para relançar uma “dinâmica” e mudar a correlação de forças para o segundo turno. No entanto, nem por isso, já perdeu a eleição. Somados, os votos da extrema-direita e os de Sarkozy chegam quase a 47%. Resta a ambiguidade do centro e as consignas para o seis de maio de cada candidatura.

(...)

O domingo teve um momento de sublime revelação na rua Solferino, onde está a sede do PS, um desses instantes no qual se pressente que o destino passa com corpo e alma. Quando Jean-Luc Mélenchon apareceu nas telas das televisões, os militantes socialistas ficaram mudos. O futuro dependia do que ele iria dizer. A televisão pública transmitiu o discurso e dividiu a tela em duas partes: à direita estava Mélanchon, à esquerda, o porta-voz de François Hollande, Manuel Vals, e a candidata de 2007 e ex-companheira de Hollande, Ségolène Royal. Estavam pálidos e tensos enquanto escutavam Mélenchon lançar seus dardos. Um silêncio sepulcral envolveu a sede do PS, onde os militantes escutavam o discurso, hipnotizados pelo temor. Até que chegou a frase liberadora, os gritos e os aplausos quando o candidato da Frente de Esquerda convocou a todos, sem ambiguidade e com uma enorme nobreza, a derrotar Sarkozy.

Outra campanha começa. Outro país pode surgir dentro de duas semanas. É preciso atravessar ainda um campo semeado de medo, de populismo e de um liberalismo cheio de ajustes recessivos. Este domingo deixa duas lições: François Hollande ressuscitou o socialismo, e Sarkozy a extrema-direita.

Com base em artigo traduzido por Katarina Peixoto

Leia a análise completa na Carta Maior


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