Por Max Altman
Foto: Efe
Com sólida formação ideológica, social e política, Maduro está preparado para governar a Venezuela |
O jornalista e cartunista Gilberto Maringoni, especialista em Venezuela, escreveu um artigo analisando a atual conjuntura do país sob o título “O chavismo está mais forte que nunca. O chavismo corre seu maior risco”. Resolveu adotar a atitude de “crítico isento, objetivo e imparcial” dos acontecimentos. Nada mais legítimo.
Muitos analistas da grande imprensa têm perfilado a mesma posição. Há ainda outras duas visões, ambas inseridas na batalha de ideias que se trava, no caso concreto, da Venezuela.
Ao terminar de ler o texto de cerca de 1500 palavras, pode-se constatar que as expressões socialismo ou socialista não foram usadas uma única vez, salvo quando enunciou por extenso o nome do partido de Chávez, o PSUV, em que o S designa socialista. Por outro lado, abunda a expressão chavismo, que o articulista define como o nome genérico que se dá à política venezuelana.
Maringoni insiste que o processo político venezuelano assenta-se quase exclusivamente sobre a legitimidade de seu líder, que costuma se expressar com exuberância e estridência e que sem ele o futuro é uma incógnita.
Sem ignorar o papel essencial que Chávez desempenhou e desempenha no processo revolucionário bolivariano e socialista da Venezuela – escrevo sob o impacto do agravamento da saúde do presidente-comandante –, as condições subjetivas para o avanço da revolução estão sendo criadas e consolidadas no trabalho diuturno político e ideológico do Partido Socialista Unificado da Venezuela e demais partidos do Polo Patriótico e das lideranças partidárias no governo e no parlamento.
O vice-presidente Nicolas Maduro destacou as conquistas políticas da democracia em seu país, com destaque para a estabilidade política, para a construção permanente da democracia e para as grandes vitórias eleitorais de um povo que se expressou livremente. Na Venezuela, o povo é protagonista de sua história como vinha insistentemente pregando o presidente Chávez. Ademais, a democracia venezuelana tem por base uma Constituição que é letra-viva que garante a participação e influência de um povo consciente.
Afirmar, como Maringoni e os comentaristas da grande imprensa, que sem Chávez o futuro da revolução bolivariana socialista é uma incógnita, é desprezar a força, a sensibilidade, o instinto, a consciência e a sabedoria do povo, em especial do povo trabalhador, motor de qualquer transformação social progressista.
Maringoni diz mais que o PSUV é um amálgama de interesses díspares que pode se esfacelar sem o polo aglutinador do “assim chamado” comandante. Coloquei entre aspas o “assim chamado” para reafirmar que o sentimento das massas em relação a Chávez é de que ele é realmente o comandante, expresso na consigna popular “Pa’lante, Comandante” (Avante Comandante).
Ora, para quem acompanha de perto o processo político da Venezuela, é sensível o aprimoramento político e organizativo do Partido, seu poder de mobilização, e hoje uma estrutura mais perto do povo, em condições de orientá-lo e educá-lo. Ao longo do percurso houve deserções, aventureiros ou traidores foram postos à margem, ineptos e aproveitadores foram deslocados de suas funções.
Hoje as questões centrais são mais aprofundadamente e democraticamente discutidas e há muito mais unidade interna. Esse partido, mesmo diante do pior cenário, será capaz de dar sustentação ao novo governo que se formar. Sociologicamente, as transformações que aconteceram desde 1999, em meio à hegemonia chavista, tiveram uma marca tão profunda que mesmo na ausência do líder histórico seus sucessores serão capazes de levar adiante o projeto revolucionário bolivariano socialista.
Diz mais o articulista que o populismo de Chávez tem características progressistas na realidade venezuelana. É insensato falar-se de populismo quando Chávez ganha as eleições presidenciais de outubro de 2012 com base em um plano amplamente divulgado e debatido, o “Plano Socialista da Nação – 2013-2019”, programa histórico de cinco objetivos fundamentais, que tem por lema ‘desenvolvimento, progresso, independência, socialismo’. Na mensagem que Chávez dirigiu às forças armadas pouco antes de se submeter à cirurgia mais recente em Havana, declarou que “estamos construindo um socialismo inédito, sem cópia ou modelo, ancorado na unidade cívico-militar e na independência e soberania da pátria.” E concluiu com enfáticas conclamações: “Hasta la victoria, siempre ! Independência y Patria Socialista ! Viviremos e venceremos! ”
As condições objetivas também avançam. Há gigantescos desafios pela frente – sempre os há e mais ainda quando se pretende transformar a sociedade e o país. Há muita ineficiência de gestão governamental, baixa produtividade, persistem altas taxas de criminalidade, uma arraigada cultura de corrupção, inflação alta e outras mazelas.
Há obstáculos de outra natureza, a oligarquia e boa parte do empresariado, tendo como porta-voz os grandes meios de comunicação, remam contra, a oposição aposta na desestabilização, a pressão do império é insistente.
Contudo números recentes apontam para melhores dias: crescimento do PIB de 5,5%, 0,5 ponto acima da previsão; “Misión Vivienda” atinge 99% do previsto, com a construção de mais 200 mil novas habitações; desemprego cai a 6,4%; inflação desce abaixo dos 20% contra quase 30% do ano anterior, só para citar alguns poucos.
Outro dado fundamental da conjuntura não contemplado pelos argutos analistas: as Forças Armadas da Venezuela são hoje leais ao projeto de construção do socialismo, com independência e soberania, dispostas e preparadas a defendê-lo. O povo venezuelano conta com uma Força Armada real e verdadeiramente bolivariana, portanto verdadeiramente nacional. Um corpo essencialmente patriótico, popular, revolucionário, anti-imperialista e socialista. É inegável o papel protagônico que a Força Armada Bolivariana está desempenhando na construção coletiva de uma sociedade cada vez mais justa, uma sociedade em transição para o socialismo.
Allende, a seu tempo, quis implantar o socialismo por meios pacíficos mas não tinha as armas a seu lado. Aprendendo as lições da história, Chávez pavimentou o caminho rumo ao socialismo, pacificamente, apoiado belo braço armado.
Maringoni põe em dúvida a capacidade de Nicolás Maduro de segurar o bastão que Chávez lhe confiou. Maduro pode não ter o carisma de Chávez, mas provou-se um quadro altamente qualificado como presidente da Assembleia Nacional e chanceler nos últimos seis anos e meio.
Maduro é mais. Tem sólida formação ideológica, social e política e é um dos artífices da construção partidária e das diretrizes políticas consubstanciadas no “Plano Socialista da Nação”. Ainda que sem a presença física de Hugo Chávez, Maduro será capaz de liderar a nação na consolidação de uma forte e influente democracia socialista.
Fonte: Opera Mundi
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