sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cúpula dos Povos: 80 mil em Marcha no Rio

Por Wanderson Mansur*

Cerca de 80 mil pessoas participaram da grande “Marcha dos Povos em Defesa dos Bens Comuns e Contra a Mercantilização da Vida”, realizada nesta quarta-feira (20/6), no Rio de Janeiro. Um mar de gente, ocupou toda a Avenida Rio Branco, da Candelária até a Cinelândia, onde os movimentos sociais fizeram ato político.

A mobilização global organizada pelo Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos, contou com a participação de diversos movimentos sociais e populares do Brasil e do mundo, ONG´s, entidades da sociedade civil, centrais sindicais e partidos políticos de esquerda, que saíram às ruas em oposição ao modelo de economia verde, em debate na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20.

Durante todo o trajeto, militantes, ativistas e povos de todo mundo denunciaram o capitalismo e seu insustentável modelo de produção e consumo, que explora os seres humanos e a natureza até esgotá-los e reafirmaram a necessidade de construir novos paradigmas para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, com justiça social e ambiental, respeito aos direitos humanos, as culturas e aos territórios. A “economia verde”, proposta pelo capital financeiro e chefes de Estado, foi duramente rechaçada durante a mobilização.

Elizabeth Mpofu, do Zimbábue na delegação da Via Campesina Internacional, “a Rio +20 deveria se chamar Rio -20! A economia Verde não é solução, pois somente serve às transnacionais, não respeita os Direitos Humanos, não respeita as gentes. Cria, por sua vez, uma agenda de destruição. Nós vamos destruir esta agenda”. A militante exemplificou como a concentração de terras é um dos problemas mais sérios do mundo, citando o caso recente do Paraguai em que, assim como outros semelhantes, viu tombar lideranças camponesas que contrariam o latifúndio devastador.

Durante o grande ato, o evento oficial da ONU foi lembrado, destacando-se o desprestígio das principais economias dos países do Norte para com os governos que se encontram na Rio +20. Foi questionada a cessão por parte do governo brasileiro de um aporte de US$ 10 bilhões (dez bilhões de dólares) ao fundo de resgate dos bancos europeus em crise. No total, somando as colaborações de todos os países do G-20, serão desprendidos US$ 456 bi dos cofres públicos para a crise do capitalismo.

Enquanto os diplomatas e chefes de Estado de uma centena de países se encontraram para redigir um único documento (que não prevê punições e metas para os poluidores), um sem número de organizações da sociedade promovem a Cúpula dos Povos, por Justiça Social e Ambiental e em Defesa dos Bens Comuns. Além de grandes mobilizações de rua, acontece uma série de debates e momentos de convergência nos eixos que englobam as denúncias das reais causas da crise, as soluções já praticadas pelos povos e as agendas e unidades para a luta nos próximos períodos.

Na Cinelândia,  foi realizado grande ato político e de contestação, onde diversos movimentos sociais se manisfestaram.

Artur Henrique, presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT-Brasil), destacou a importância da Cúpula dos Povos para a agenda do desenvolvimento sustentável e defendeu que é preciso haver uma transição justa do atual modelo de produção e consumo para um nova economia que garanta a geração de novos empregos, distribuição de renda e trabalho justo e decente para todos e todas.

João Pedro Stédile, representante da Via Campesina, afirmou que os movimentos sociais saíram às ruas para denunciar os verdadeiros culpados pela depredação ambiental, alteração do clima, privatização das sementes, da água, do ar e das florestas. “O responsável pela crise ambiental e sistêmica que atravessamos é o capitalismo e as grandes corporações transnacionais”, enfatizou. “Não dá para discutir meio ambiente sem apontar para quem depreda”, completou.

Stédile chamou os povos de todo mundo a selar compromisso: “propomos o pacto do Rio de Janeiro dos povos em luta, para que voltemos para nossos locais de origem e façamos todos os dias lutas contra aqueles que usurpam, depredam e exploram os povos e a natureza”, ao afirmar que a única forma de salvar o planeta é o com o povo se colocando na luta.


*Wanderson Mansur é jornalista e correspondente do Página 13 na Rio+20 

(Com informações da Cúpula dos Povos)

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