Foto: Agência Brasil |
Por Rodrigo Otávio
Rio de Janeiro – A conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, terminou nesta sexta-feira (22), no Rio de Janeiro, com uma louvação da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, à democracia, ao respeito às diferenças e à participação popular. “Senhora e senhores, diziam que o multilateralismo estava agonizante. A Rio+20 mostrou que o multilateralismo é um instrumento insubstituível de expressão global da democracia. Reafirmamos que essa é a via legítima para a construção de soluções para os problemas que afetam a toda humanidade”, afirmou Dilma em seu discurso de encerramento do encontro, no Riocentro.
A presidenta ressaltou que, “aos resultados da conferência dos chefes de estado e de governo somam-se os diálogos e os avanços da Cúpula dos Povos, do Fórum das Grandes Cidades, do Fórum das Mulheres, da participação dos movimentos sociais e das ONGs”.
Sem a esperada revisão do documento oficial, tido como inócuo por diversos setores da sociedade civil, representantes de vários países endossaram o discurso de que o texto foi o possível, dada a dificuldade de convergência dos 188 países participantes do encontro, durante a sonolenta cerimônia de encerramento comandada pelo embaixador brasileiro Luiz Fernando Figueiredo.
Dilma afirmou que o principal, a partir de agora, é da Rio+20 para frente. “Esse documento é um ponto de partida. É um documento sobre o meio ambiente, desenvolvimento sustentável, biodoversidade e erradicação da pobreza. É necessário ter um ponto de partida. O que nós temos que exigir é que, a partir daí, as nações avancem. O que nós não podemos conceber é que alguém fique aquém dessa posição. Além dessa posição todos podem ir, todos devem ir”, disse ela.
Conta
Ainda que conciliatória, Dilma não esqueceu de mencionar a falta de compromisso dos países ricos em honrarem acordos anteriores de reparação e assumirem compromissos financeiros específicos para a promoção do desenvolvimento sustentável. Nas discussões do documento oficial em solo brasileiro, um dos primeiros pontos descartados foi um fundo de US$ 30 bilhões para ajudar países em desenvolvimento a implementarem programas ambientais.
“Aplaudo em especial os países em desenvolvimento, que assumiram compromissos concretos com o desenvolvimento sustentável. Compromisso esse firmado mesmo na ausência da necessária contrapartida de financiamento prometida pelos países desenvolvidos”, disse.
E citou o exemplo do anfitrião. “O Brasil, país emergente, fará a sua parte. Colocaremos US$ 6 milhões no fundo do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) para países em desenvolvimento. Além disso, contribuiremos com US$ 10 milhões para o enfrentamento das mudanças do clima nos países mais vulneráveis na África e nas pequenas ilhas”.
Cara a cara
Pela manhã, os organizadores da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, se encontraram com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, quando entregaram as propostas elaboradas por ONGs e movimentos sociais de vários países no Aterro do Flamengo. No encontro do Riocentro, os representantes da sociedade civil se mostraram frustrados com o texto oficial aprovado pelas delegações na Rio+20. “Gostaria de expressar nosso profundo desencanto, nossa profunda frustração em relação ao documento oficial apresentado”, discursou Iara Pietrovsky, representante da Rede Brasil e uma das organizadoras da conversa cara a cara entre a Cúpula dos Povos e a Rio+20, se dirigindo ao secretário-geral da ONU.
“Esperávamos um documento bem mais audacioso, bem mais ambicioso frente aos desafios que estamos nos confrontando”, disse Iara. “De qualquer maneira, acreditamos que o diálogo e a possibilidade de uma agenda é importante para que possamos criar saídas alternativas e sustentáveis para o nosso planeta”, completou a antropóloga e ambientalista.
O sentimento de frustração dos representantes da sociedade civil foi ampliado ao, durante a reunião, saberem de Ki-moon que o documento oficial realmente não seria mais modificado pelos chefes de estado. “Gostaríamos que ele (Ban Ki-moon) levantasse a ambição e que a gente pudesse abrir espaços de mais diálogo e participação, e mudança radical deste documento oficial”, disse Iara. “Mas o nosso processo não dependia da conferência. A Rio+20 foi uma passagem, infelizmente uma passagem extremamente frustrante”, completou.
Ban Ki-moon foi apenas conciliatório, congratulando a iniciativa da Cúpula dos Povos e afirmando que estava ali para aprender. “A verdade é que vocês tiveram uma posição chave na Rio+20. Vocês ajudaram a manter viva durante toda a conferência oficial as aspirações populares por trabalhos decentes, inclusão social e prosperidade econômica, enquanto protegendo a Terra como nossa única casa”, afirmou.
Em seu discurso para os integrantes dos movimentos sociais, o secretário-geral da ONU traçou paralelos entre os dois eventos, reafirmando que o objetivo é o bem comum de todos. De acordo com Ki-moon, “a Cúpula dos Povos talvez use uma linguagem diferente do encontro oficial, mais direta talvez; mas todos nós, tanto no encontro oficial como na sociedade civil, aspiramos pelos mesmos objetivos, que são todos, homens e mulheres, não importando de onde eles vem e quem são, serem capazes de viverem em paz e prosperidade, em um mundo saudável, com um meio ambiente mais limpo e um ecossistema mais estável”.
Ele disse ainda que as propostas apresentadas pela Cúpula são a prova que “o caminho não termina no Rio, ele começa aqui”. “Eu agradeço por ajudarem a construir o futuro que nós queremos, complementando o documento oficial com suas propostas para uma agenda depois da Rio+20”, discursou.
Início?
O palavrório oficial de Ki-moon não convenceu. Darci Frigo, diretor executivo da Ong Terra de Direitos, disse não ter saído nada contente do encontro com a posição do documento oficial da ONU. “Tivemos um rebaixamento nas questões das mulheres e respostas genéricas sobre economia verde. O próprio secretário-geral Ban Ki-moon colocou que o documento é apenas um início, então a comunidade mundial avalia que se passaram vinte anos e ainda é um início! Não tivemos avanço nenhum nesse encontro da Rio+20. É um tristeza para todo o mundo”, avaliou ele.
Publicado na Carta Maior
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