Por Jonatas Moreth e Adriele Monjabosco*
Com o peso de 75 anos de uma linda história de muita combatividade; com a responsabilidade de ser a entidade que representa os mais de um milhão e meio de estudantes universitários brasileiros; com a consciência dos imensos desafios de liderar e protagonizar a luta por uma universidade democrática e popular, a União Nacioal dos Estudantes – UNE convoca o seu 53° Congresso a ser realizado entre os dias 29 de Maio a 2 de Junho em Goiânia.
Neste momento em que os movimentos sociais se debruçam em um profundo e necessário balanço de uma década de um Governo de Centro Esquerda liderado pelo Partido dos Trabalhadores, a UNE não pode se furtar a também fazer o seu balanço no 53° Congresso. Mas deve o fazer com olhos para o futuro e consciente do seu papel: ser a ponta de esquerda que arraste o Governo para as demandas reais dos estudantes, dos jovens que estão fora das universidades e da classe trabalhadora.
Para isto terá pela frente três grandes desafios. O primeiro é a aprovação do Plano Nacional de Educação com as emendas propostas pelo movimento social de educação. O projeto foi aprovado na Câmara e se arrasta na tramitação no Senado. Tem como maior polemica a meta n° 20, que determina que até 2023 o Estado brasileiro deverá investir no mínimo 10% do PIB na educação pública.
Hoje temos pouco mais de 5% do PIB de investimento, valor inconcebível diante dos muitos desafios da educação brasileira. Temos professoras/es e demais trabalhadoras/es da educação sem receber o piso salarial; mães sem poder trabalhar ou estudar por não ter creche para seus filhos; escolas sem a mínima estrutura para aula; jovens sem vagas para cursar o Ensino Médio; salas de aula lotadas; orçamento insuficiente para assistência estudantil; ausência em vários campi de R.U e Casa do Estudante; e número reduzido de professoras/es e técnicos administrativos.
Temos a convicção de que a meta de 10% do PIB de investimento até 2023 é plenamente atingível. Para isto, defendemos a aprovação da destinação de 100% dos royalties e 50% do fundo social do pré-sal para educação. Mas não só isto. Defendemos que o Governo Federal tenha ousadia para auditar, de forma profunda, a dívida pública e para acabar com a farra do setor financeiro, assim como para diminuir o superávit primário, que é o dinheiro economizado que pode ser gasto em educação e infraestrutura e vai para pagamento dos juros da dívida.
O segundo desafio parte da concepção de que o prolema da universidade brasileira não é só de financiamento. A falta de recursos explica muita coisa, mas não uma universidade machista, homofóbica, racista, eurocêntrica, fechada para a comunidade ao seu redor e com uma pedagogia bancária. Urge a necessidade da construção de uma Reforma Universitária. A universidade não é neutra, pelo contrário, tem sido importante aliada dos setores dominantes. Precisamos transformá-la em um espaço de reflexão sobre o Brasil e de intervenção na realidade.
O Brasil que queremos precisa de uma universidade com democracia interna, onde a voz dos estudantes tenha o mesmo peso que o a dos professores; uma universidade com pesquisa fortalecida e a serviço do desenvolvimento nacional e regional; que seja sem muros e pratique uma extensão universitária com trocas de conhecimento e valorização dos saberes populares; uma universidade em que sua grade curricular valorize o SUS, estude a necessidade de uma reforma ágraria, debata a democratização das comunicações e outras demandas socias que hoje são ignoradas.
A UNE, em seu 14° CONEB – Conselho Nacional de Entidades de Base ocorrido no Recife em Janeiro, construiu o projeto de reforma universitária dos estudantes brasileiros que dá conta destas demandas. Precisamos agora fazer com que este projeto vá para as bases e seja debatido pelo conjunto dos estudantes, para que seja a pauta central da próxima jornada de lutas.
Para participar da mobilização na luta por estes desafios, precisamos, antes, resolver o terceiro deles. Hoje, um número cada vez maior de universitários se organizam em coletivos de mulheres, de negros e negras, de cultura, de LGBT’s, de extensão, de religiões, de defesa do meio ambiente, entre outros. Esses diversos movimentos organizam e mobilizam milhares de estudantes pelo país, porém nem sempre constróem a rede tradicional do movimento estudantil (Centros e Diretórios Acadêmicos, Diretórios Centrais dos Estutantes, UEE’s, Executivas e Federações de curso e a UNE). É um desafio colocado sobre nós a reorganização do movimento estudantil, entendendo-o como um prisma em que essas diversas identidades se convergem e e que encontrem na UNE, mais uma vez, um dos principais espaços de luta estudantil Brasil afora.
Esta próxima gestão da UNE terá como grande desafio produzir uma nova cultura política para o movimento estudantil que atraia para as entidades do movimento estudantes que não mais a enxergam como o seu espaço de organização. Para este novo tempo precisamos de um novo movimento estudantil que seja capaz de mudar a universidade e tranformar o Brasil.
*Jonatas Moreth é estudante de Serviço Social na UnB e Diretor de Políticas Educacionais da UNE e Adriele Monjabosco é estudante de Serviço Social na UFSM e Diretora de Movimentos Sociais da UNE
Reconquistar a UNE
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