Por Rafael Tomyama*
Desde a semana passada, repercutem nas redes sociais e nas velhas mídias, versões sobre o papo que rolou no almoço da Prefeita de Fortaleza e Presidenta do PT no Ceará, Luizianne Lins, com os cinco pré-candidatos do Partido à eleição deste ano - Acrísio, Bruno, Camilo, Elmano e Guilherme.
E o que se comenta é que o prato principal servido na ocasião foi o consenso. Ou melhor a decisão de que o partido, para escolha de seu candidato entre os postulantes não fará prévia, e sim um "consenso". Um dos problemas é que o consenso do consenso é também a expectativa de cada um de que ele se dê em torno de si.
O outro problema, já que não há consenso sem concessão, é quem está autorizado a decidir sobre o consenso. Segundo o que se consensuou, é a própria Luizianne. Portanto, se qualquer acerto passa pelo seu crivo, é de se pressupor que o programa estará afinado com a defesa da sua gestão, certo? Bem...
Mas a aparente decisão da indecisão também foi interpretada como sendo a de que tal consenso se daria por intermédio de um agente externo ao partido. Ou seja, com a re-afirmação da "velha novidade" de que se pretende manter a aliança com o PSB de Cid Gomes, teria vindo de sobremesa uma suposta transferência para o colo do governador, da decisão que cabe soberanamente aos/às petistas.
As tentativas de ingerências
Vários foram os recados nas notinhas midiáticas, ao longo dos últimos meses, de que intervenções no processo, de caciques das mais diversas patentes, iriam abençoar a pajelança e liquidar a fatura. Foram especulações em torno de uma ação decisiva da presidenta Dilma, do presidente nacional do PT Rui Falcão, do ex-presidente Lula (que incide "até sobre liderança de bancada"), entre outros, para mencionar só os do PT.
Como no entanto, o embrólio não "colou" e o PT em Fortaleza permanece habilitado estatutariamente a decidir no Encontro quem vai continuar a gestão vitoriosa do PT na capital, surgiu então a acusação de que Luizianne queria impor seu sucessor por meio da prévia.
É curiosa a tese que supõe ser imposta uma decisão tomada pela maioria, mecanismo democrático garantido pelo regulamento nacional e que vem sendo adotado com sucesso em várias cidades pelo país afora. Mas mesmo que se lancem mão de subterfúgios retóricos, o "consenso" será produto de um pensamento majoritário amplamente aceito, cujos sujeitos serão eleitos pelo voto da base petista.
Parentes entre parênteses
Talvez os que hoje se insurgem contra escolhas por votação da maioria, e por consequência opondo-se à democracia representativa, devessem começar se recusando a concorrer aos cargos e mandatos que dispõem dentro da insitucionalidade burguesa, em nome de uma democracia de novo tipo mais avançada: o consenso meritório.
Ou talvez prefiram um modelo de organização partidária familiar oligárquica, em que vigoram o desgaste e a chantagem emocional entre parentes, o qual se impõem num exótico método deliberativo de cima pra baixo, entre coronéis do asfalto e caipiras apadrinhados.
Aproveitando o parêntese, só para lembrar o que não se pode esquecer: em 2004 a base petista alçou Luizianne à condição de candidata do PT. Está registrado para a história, no noticiário da época, que parte da direção do PT defendeu o voto em outro candidato e com ele foi se refestelar em jantar em hotel de luxo na faixa de praia, com o então poderoso Zé Dirceu.
Ao invés da expulsão por descumprimento da norma partidária, tais dirigentes permanecem até hoje tentando domesticar o PT segundo seus interesses particulares. Mesmo com a sua traição, a gestão do PT sob a liderança de Luizianne foi eleita e reeleita pelo povo de Fortaleza. E agora reaparecem espertamente alinhados à tese do "consenso".
Compromisso programático
É garantido a quem quiser o direito de postular ser candidato usando a estrela e a marca do PT, e ainda ser beneficiado pela enorme referência que as políticas públicas da gestão Luizianne alcançam no meio popular. Por isso, há o interesse legítimo de vários candidatos em liderarem o processo em nome do PT. O que não havia a oito anos, diga-se, quando alguns queriam o partido subordinado a outro projeto.
Mas o tal consenso terá que se realizar sobre alguma base ideológica. E a defesa da continuidade do legado da administração petista é o fundamento sobre o qual se assenta qualquer candidatura que pretenda se apresentar como petista.
Se há ônus em estar na gestão pública, em não conseguir corresponder integralmente às expectativas e carências da população, é verdade que também há desgastes fabricados para fragilizar o Partido no debate eleitoral. Se o PT tem que fazer um juízo crítico de suas experiências no modo petista de governar, portanto não é uma correia de transmissão da gestão, por outro lado não dá para candidato petista fazer coro, abertamente ou à boca miúda, com movimentos orquestrados de baixarias e críticas infundadas e injustas.
A candidatura do PT é legitimamente reconhecida e aceita pelos aliados porque representa a materialização de um projeto político bem sucedido, vitorioso e com força social, não importam quantas mentiras venham a pregar sobre isso. E também não adianta querer adaptar nosso discurso para agradar a "gregos e troianos", porque isso seria confundir o povo e nos levaria à derrota. Quem quer aliança é aliado, não é opositor.
PT: Partido sem patrão
É natural que a escolha que aos/às petistas vão fazer no Encontro Municipal seja em torno de um nome que represente politicamente e renove a esperança do povo na continuação do projeto que está dando certo. Não há surpresa nisso. Quem está há oito anos engajado na defesa dos avanços de participação e qualidade de vida que a gestão do PT promove sob o comando da prefeita Luizianne, não iria optar diferentemente por algum oportunismo circunstancial.
Os nomes que o PT dispõe são todos qualificados. Não precisam ser "conhecidos" nas pesquisas, nem ungidos previamente pela aprovação da mídia, porque são resultantes de processos de construções coletivas, que o próprio partido e sua militância engendrou até agora e é capaz de continuar produzindo. A cara própria do PT é a que se identifica com seus valores, seus ideais e sua história.
Alianças e consensos podem ser passos importantes, não os únicos, nem necessariamente imprescindíveis, para a viabilidade eleitoral. É isso que Luizianne, a presidenta do PT, afirma com sua história e seu exemplo militante: tem que se apresentar um conteúdo político empolgante, sem vacilações, para sair ao mundo e conquistar corações e mentes. E, como sempre, quem decide não é nenhum patrão. A decisão é da militância do PT.
*Rafael Tomyama é filiado ao PT Fortaleza há 20 anos.
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