quarta-feira, 2 de maio de 2012

1º de Maio: mais que comemoração, momento de profunda reflexão

Por Ana Maria Sokacheski*

A criação da data, em 1889, foi feita por um Congresso Socialista, em Paris, como uma forma de homenagear os trabalhadores e as trabalhadoras que fizeram uma greve geral, em 1º de maio de 1886, em Chicago, EUA. Milhares foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho, de 13 para 8 horas diárias. Naquele dia, manifestações, passeatas, piquetes e discursos movimentaram a cidade. Mas a repressão ao movimento foi dura: houve prisões, feridos e até mesmo mortos nos confrontos entre os operários e a polícia. Em memória dos mártires, das reivindicações operárias que se desenvolveram em 1886 e por tudo o que esse dia significou na luta da classe trabalhadora pelos seus direitos, servindo de exemplo para o mundo todo, o dia 1º de maio foi instituído como o Dia Mundial do Trabalho.

No século XIX, Karl Marx já apontava uma questão importantíssima: a alienação do trabalho. Discussões acadêmicas à parte, a alienação tira dos trabalhadores e trabalhadoras, o prazer pela vida, faz com que fiquem alheios aos valores humanos, porque não dominam seu trabalho, mas sim são dominados por ele e pelo que produzem, gerando um ciclo de desumanização, o temível reinado das coisas sobre os homens e mulheres que as produzem.

É preciso que reflitamos sobre o que disse o gênio Charles Chaplin: “Pensamos demasiadamente, sentimos muito pouco, necessitamos mais de humildade que de máquinas, mais de bondade e ternura que de inteligência. Sem isso, a vida se tornará violenta e tudo se perderá.” Certamente, não há definição melhor do que é, de fato, importante em nossas vidas do que essas palavras, pois criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. `

A pressão pelos resultados, a competição, a necessidade de sobrevivência num mundo onde o materialismo impera nos faz esquecer de coisas fundamentais, como aquela conversa descontraída após um dia de trabalho, o convívio afetivo com a família, a troca calorosa com as pessoas amigas, o cuidar de si e das pessoas queridas... Enfim, de tudo que nos traz prazer e alimenta nosso espírito e nossa alma.

Não negamos a modernidade, a qual nos  trouxe uma série de benefícios, tão somente tomamos a liberdade de nesse dia dedicado aos trabalhadores e trabalhadoras refletir coletivamente sobre os efeitos nocivos do trabalho em excesso, o qual  fez com que, muitas vezes, nos sentíssemos  como meros produtos descartáveis, pressionados pelas exigências de produção e resultados com excelência de qualidade, mantendo equilíbrio mental e emocional, extrapolando nossos próprios limites humanos. Fácil de cobrar, impossível de realizar.

Reafirmamos que no nosso entendimento a modernização tecnológica da sociedade veio, inegavelmente, acompanhada de diversos benefícios, mas não proporcionou crescente bem-estar social e qualidade de vida. Hoje, infelizmente, as pessoas estão separadas por milhares de quilômetros de cabos e fibras óticas, privadas da magia do convívio pessoal, produto da contradição entre o materialismo e a humanização.

Fazer o quê, dizem uns, podemos mudar, dizem outros. O certo é que devemos aproveitar essa data para comemorar sim este dia, mas também refletir profundamente sobre o trabalho em nossas vidas. Afinal,  já dizia Charles Chaplin: "Não somos máquinas, homens e mulheres é quem somos".

*Ana Maria Sokacheski é Educadora Social, militante de movimentos populares e acadêmica de Pedagogia, Polo Itapema, UAB-UDESC

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